A política é a mais nobre de todas as artes e é fundamental ao bom funcionamento da vida social.
Todo o acto social é intrinsecamente político e até o ar que respiramos pode a determinada altura da vida societal ser objecto de discussão política.
Max Weber, sociólogo alemão dos finais do século XIX, início do século XX, num maravilhoso texto intitulado "A política como vocação", defendia que são três as qualidades decisivamente importantes para um político. Paixão, no sentido de amor às causas que defende, sentido de responsabilidade e tacto, no sentido de equilíbrio e moderação.
Weber via na complementaridade entre uma ética da responsabilidade e um ética da convição os ingredientes fundamentais à fabricação do homem político por excelência.
Agindo segundo a ética da convição, o político não teria que prestar contas das suas decisões pois a legitimidade das suas acções viria da crença numa determinada causa, sem ter em conta a relação entre meios e fins.
Agindo segundo a ética da responsabilidade, a relação meios e finalidades seria devidamente ponderada e a ética da responsabilidade exigiria que nem sempre os melhores meios justificam os melhores fins e que nem todas as causas que fazem mover a ética da convição resultariam nas melhores finalidades para o povo que se governa.
Seria o equilíbrio e a complementaridade entre a ética da convição e da ética da responsabilidade que faria a boa política.
José Rodrigues Zapatero prestou esta semana um hino à política, juntando admiravelmente a ética da convição à ética da responsabilidade.
Jornal Público, de Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2008
"Os socialistas espanhóis responderam às acusações da Igreja Católica que no Domingo tinha críticado o Governo ao afirmar que as suas políticas a favor dos direitos dos homossexuais e em relação ao divórcio representam "uma marcha atrás nos direitos humanos". Ontem o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) assegurou em comunicado que não dará "nenhum passo atrás" nas medidas sociais que propõe".
O chefe do governo socialista espanhol, Zapatero, considerou que "todas as pessoas têm direito aos seus direitos, quaisquer que sejam as suas crenças" e o membro da comissão executiva do PSOE, José Blanco, considerou as acusações feitas pelos bispos extremamente graves. E acrescentou que "só aqueles que deliberadamente ignoram e não respeitam os príncipios da liberdade se afastam dos fundamentos essenciais da democracia".
Admirável, senhor Zapatero!
Face ao ataque homofóbico da direita conservadora e dos altos representantes da Igreja Católica em Madrid e em Valência só um politico que alie a ética da convicção à ética da responsabilidade pode agir desta maneira.
Na era em que a política está subordinada aos grandes interesses económicos e aos grandes poderes corporativos existentes nas sociedades democráticas este é o tipo de comportamento que pode gerar a crença na legitimidade de um verdadeiro líder.
E nós por cá? Um estudo revelado pelo jornal Expresso há alguns anos atrás apontava para um milhão de homossexuais na sociedade portuguesa. Um em cada dez portugueses é homossexual. Um em cada dez portugueses não vê os seus direitos constitucionalmente consagrados serem respeitados e cumpridos.
Sobre estas questões em Loulé nem vale a pena comentar. Tal como no Irão de Mahmood Ahmadi-Najad, também em Loulé não existem homossexuais.
Já tinha ficado bem impressionado com o senhor Zapatero a quando da sua intervenção no incidente entre o Rei de Espanha e Hugo Chavez no célebre "Por que non te callas?".
Volta Zapatero a conquistar a minha admiração face à sua forma de estar na política.
Um verdadeira lição socrática!
Bom fim de semana
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