Para Geert Wilders, fascista holandês, os chamados países periféricos são os países com cheiro a alho.
Leprosos. Os países com cheiro a alho são para eles uma espécie de gafaria, onde se deixa cair o corpo aos pedaços.
Leprosos. Os países com cheiro a alho são para eles uma espécie de gafaria, onde se deixa cair o corpo aos pedaços.
O que Wilders não sabe é que o alho é um poderoso antídoto contra os vampiros.
Portugal, Espanha, a Grécia e o resto dos pomares saqueados, ainda não cheiram suficientemente a alho.
Por isso mesmo a vampiragem, a escumalha financeira, continua a sentir-se atraída pelo pedaço de terra que esses países hoje são.
Países perdidos na sua história, no tempo, no seu estatuto de soberania, a quem é indicado um caminho sem regresso, sempre à direita. As indicações dos enviados das agências são, à direita, à direita até chegarem. Até chegar onde?
A escumalha financeira é uma coisa densa, semi-clandestina, opaca, uma espécie de escória da humanidade, um subproduto tóxico gangsterizado que atua como pode em cada país que lhe abre as portas.
Trazem sprays de medo com que pulverizam tudo à passagem. Por isso o Syriza não ganhou as eleições. Quase, quase lá, e a porta não se abriu
O que eu gostava mesmo era que a esquerda tivesse ganho na Grécia. A vitória surgiria como um manguito colossal à austeridade. O que eu gostava era ver todas as Merkels da Europa desautorizadas, passadas do miolo a barafustar impropérios e a rezar blasfémias. E a Grécia e o povo da Grécia e o sol da Grécia, tudo na deles, a olhar quase divertidos para o espetáculo da sargenta e da sargentada, a babarem-se de raiva.
Gostava de ver os nazis de focinho no chão, a olhar de esguelha, deprimidos e abatidos, desmascarados, a procurarem uma toca para hibernarem. Gostava de os ver com medo.
Os nazis, nas décadas a seguir à guerra, faziam apenas sarrafuscas apalhaçadas por essa Europa fora, com uns mortos à mistura. Faziam-no, aliás, com a completa complacência das autoridades policiais. Agora concorrem a eleições, põem o cu nos parlamentos e preparam-se para crescer. Que merda é esta?
Gostava de ver as agências financeiras a serem desvendadas, sem a roupa de números com que se escondem e sem a pele de plástico com que tapam as gangrenas.
Era bom.
Gostava de correr com Passos Coelho, Portas e quejandos. Uma maratona que durasse eternamente. Que não voltassem cá mais. Que andassem por aí aos caídos a pregar aos peixes e os peixes a voltarem-lhes o rabo e a mergulharem mais fundo, até deixarem de ouvir o ruído, o estrépito da voz, sempre a impor-se na mentirada. Que se transformassem num embaraço até para os mais chegados. Que tivessem de pôr óculos escuros de cada vez que lhes apetecesse sair à rua. Gostava.
Gostava de despedir sumariamente o D. Sebastião. Mudá-lo de posto de trabalho. Ele que vá para a direita. A direita que se agarre a ele e à pileca. A direita que fique no nevoeiro que lhe faz bem aos ossos. Pode ser que ganhe uma artrite e fique quieta e paralisada.
Países com cheiro a alho.
O alho tem propriedades anti cancerígenas e é um poderoso anticético.
O alho tem muitos dentes que mordem e estraçalham as entranhas dos vampiros, dos Dráculas mal encarados que por aí adejam na Europa toda.
Dizem sempre que nos vão salvar. Têm-nos feito acupunctura financeira. De há um tempo para cá, têm-se regalado com experiências. Espetam facas em vez de agulhas. Nos sítios errados. Dizem que é remédio.
Mas é só tortura.
É melhor que a gente vá arranjando umas estacas. Quando se apresentarem de faca em punho para mais cortes, convém pregar-lhes uma estaca bem no centro do coração. Pode ser que fujam. Com a estaca e o cheiro a alho.
Um texto de Alice Brito
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