1 de Novembro de 2011 - Abate de árvores em Loulé
Terça-feira, 1 de Novembro de 2011, feriado nacional. Diz-me a mãe do meu filho mais velho que tem seis anos que foi ele que lhe fez uma pressão brutal para telefonar ao pai para avisar que estavam a abater mais árvores na cidade de Loulé. Saio de casa e vou direito ao Monumento Duarte Pacheco. A maior parte das árvores estão sinalizadas para intervenção. Uma parte delas vão ser abatidas (algumas já foram no período da manhã) outras vão ser podadas de uma forma que não lembraria ao diabo. Um Vereador da Câmara Municipal de Loulé passea-se por ali a assistir ao exercício de devastação ambiental. Pergunto-lhe se é o vereador que a filha esteve na escola de Almancil. Diz-me que não ficou. Digo-lhe que estou indignado com mais um incompreensível abate de árvores na cidade de Loulé. Diz-me que não me devo dirigir à sua pessoa uma vez que não o conheço de nenhum lado. Respondo-lhe que sei que é vereador e portanto não me interessa se não me conhece, interessa-me sim a forma como os responsáveis políticos gerem os recursos públicos. Aparece de seguida a Gaia Ciência. Eu sou arquitecto paisagista. Posso-lhe explicar. Digo-lhe que há um padrão de abates desde há três anos no concelho que refuta qualquer tipo de explicação cientificamente credível. Esqueci-me de perguntar ao senhor arquitecto se foi ele o responsável pela intervenção desastrosa no Parque Municipal. Espero bem que não tenha sido, não vá eu ficar a perceber que as ciências ambientais na cidade de Loulé andam pela rua da amargura. Fui derrotado pela sábia vereação política e pela sabedoria científica do senhor arquitecto. Desejei-lhes bom feriado e fui-me embora para casa.
Domingo, 6 de Novembro de 2011. Vou comprar o jornal e de novo o abate continua. O cenário agora já é desolador. Ao longe um operário do abate gesticula quando me vê tirar fotografias. Pergunto-lhe se não posso. Diz-me que tenho que ter autorização. Digo-lhe que o fascismo está a chegar mas ainda não chegámos a tanto. Estou em plena rua, o espaço é público (por enquanto) e posso tirar fotografias às arvores abatidas e trituradas que eu bem entender. Continuo a tirar fotografias, quando dou por mim está um empregado da CML a espreitar por detrás de mim para a máquina. Pergunto-lhe se está incomodado com as fotografias. Diz-me que não. Que só não quer que tire fotografias à sua pessoa. Digo-lhe que estando ele atrás de mim ainda não tenho tecnologia fotográfica que tire fotografias em sentido contrário. Passado um bocado tenho quatro ou cinco indivíduos a questionar-me sobre as fotografias e alguns gozam com a minha preocupação ambiental. Vim embora. Não me atrevi a importunar mais tão importante função que tanto contribui para o desenvolvimento sustentável do concelho. Indignados por ali. Nem vê-los.
Foto: João Martins
Terça-feira, 1 de Novembro de 2011, feriado nacional. Diz-me a mãe do meu filho mais velho que tem seis anos que foi ele que lhe fez uma pressão brutal para telefonar ao pai para avisar que estavam a abater mais árvores na cidade de Loulé. Saio de casa e vou direito ao Monumento Duarte Pacheco. A maior parte das árvores estão sinalizadas para intervenção. Uma parte delas vão ser abatidas (algumas já foram no período da manhã) outras vão ser podadas de uma forma que não lembraria ao diabo. Um Vereador da Câmara Municipal de Loulé passea-se por ali a assistir ao exercício de devastação ambiental. Pergunto-lhe se é o vereador que a filha esteve na escola de Almancil. Diz-me que não ficou. Digo-lhe que estou indignado com mais um incompreensível abate de árvores na cidade de Loulé. Diz-me que não me devo dirigir à sua pessoa uma vez que não o conheço de nenhum lado. Respondo-lhe que sei que é vereador e portanto não me interessa se não me conhece, interessa-me sim a forma como os responsáveis políticos gerem os recursos públicos. Aparece de seguida a Gaia Ciência. Eu sou arquitecto paisagista. Posso-lhe explicar. Digo-lhe que há um padrão de abates desde há três anos no concelho que refuta qualquer tipo de explicação cientificamente credível. Esqueci-me de perguntar ao senhor arquitecto se foi ele o responsável pela intervenção desastrosa no Parque Municipal. Espero bem que não tenha sido, não vá eu ficar a perceber que as ciências ambientais na cidade de Loulé andam pela rua da amargura. Fui derrotado pela sábia vereação política e pela sabedoria científica do senhor arquitecto. Desejei-lhes bom feriado e fui-me embora para casa.
Domingo, 6 de Novembro de 2011. Vou comprar o jornal e de novo o abate continua. O cenário agora já é desolador. Ao longe um operário do abate gesticula quando me vê tirar fotografias. Pergunto-lhe se não posso. Diz-me que tenho que ter autorização. Digo-lhe que o fascismo está a chegar mas ainda não chegámos a tanto. Estou em plena rua, o espaço é público (por enquanto) e posso tirar fotografias às arvores abatidas e trituradas que eu bem entender. Continuo a tirar fotografias, quando dou por mim está um empregado da CML a espreitar por detrás de mim para a máquina. Pergunto-lhe se está incomodado com as fotografias. Diz-me que não. Que só não quer que tire fotografias à sua pessoa. Digo-lhe que estando ele atrás de mim ainda não tenho tecnologia fotográfica que tire fotografias em sentido contrário. Passado um bocado tenho quatro ou cinco indivíduos a questionar-me sobre as fotografias e alguns gozam com a minha preocupação ambiental. Vim embora. Não me atrevi a importunar mais tão importante função que tanto contribui para o desenvolvimento sustentável do concelho. Indignados por ali. Nem vê-los.
Foto: João Martins
Nem verá.Nesta terra de cagufas está tudo bem assim e oxalá não piore.Parabéns pela sua coragem.Tiro-lhe o chapéu.
ResponderEliminarOla amigo João.Sabemos que na verdade indignados ha poucos ,e com coragem ainda menos os ha!.O resto são Bestas de pastagem,( mamìferos ruminantes)e destes jà são tantos nesta provincia que o nome correcto jà pode ser :ALGAR-VEADOS.
ResponderEliminarCaros amigos que aqui comentaram,
ResponderEliminarFico confortado com os vossos comentários. É sinal que nem tudo é deserto e apatia. Não se trata de coragem. Trata-se dos mais elementares direitos de cidadania. E neste caso não só cidadania social mas também ambiental.
Uma abraço aos dois
João Martins
Excelente relato de um triste fato.
ResponderEliminarO que mais preocupa, João, é a omissão da grande maioria da população. Isso infelizmente ocorre em todo o planeta.
Mas sempre que houver ao menos UMA pessoa protestando, denunciando e discordando dessas barbaridades, haverá resistência!
Estamos também tão indignados como tu!
Cesar
Olá César,
ResponderEliminarFelizmente que vocês aí, os Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho são um exemplo para o mundo!
Abraço
João Martins
João,
ResponderEliminarParabéns pela coragem cívica. Da minha parte, fiz o pouco que posso fazer, divulgando na "sombra verde" e no Facebook da Árvores de Portugal.
Penso que este texto deveria ser divulgado na imprensa regional.
Outra coisa...Não se poderia transformar esta "exposição virtual" que tens feito no blogue, numa exposição real, numa coletividade ou em qualquer outro espaço de exposições de Loulé (obviamente não na dependência da CML)?
Olá Pedro,
ResponderEliminarParabéns por tudo o que tens feito pelas Árvores de Portugal. Não podes fazer muito mais, até porque lutas contra um monstro apático (nacional) de fragilidade em cultura ambiental. O vosso trabalho tem sido a todos os níveis exemplar.
Quanto à exposição penso que tenho material muito interessante recolhido ao longo destes últimos anos no concelho de Loulé e já pensei em fazer uma exposição real. Coloca-se o problema do espaço e de falta de tempo de momento (da minha parte). Mas é uma coisas em que já pensei várias vezes e que espero poder concretizar nos próximos tempos porque penso que pode produzir um efeito pedagógico positivo mesmo que ilustrando uma realidade negativa.
Deixa-me só dizer isto: Substituiram por ali algumas árvores das abatidas o que em meu entender não justifica o abate.
Um grande abraço
João Martins
Louletanos, unam-se esta noite ou amanhã e manhã e expulsem a bem ou a mal os vossos autarcas, sobretudo essa besta quadrada que tais respostas deu, que merecia era logo com uma árvore em cima!
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