Ontem, 3 de Agosto de 2010, o jornal Público, dedicou três páginas inteiras ao estado da saúde na região do Algarve. Quando meio Portugal atravessa o Alentejo para vir a banhos ao Algarve, a região ganha alguma importância no panorama mediático nacional.
A cobertura jornalística em causa é uma autêntica relíquia demonstrativa de um determinado ethos do modo de pensar a saúde por parte de alguns dos principais responsáveis da saúde no Algarve. Do Dr. Rui Lourenço, ficámos a saber que estamos "preparadíssimos" para receber os turistas no Algarve; que o Algarve "é uma boa região para se ter um enfarte" e que se os malandros dos utentes não se quiserem dar ao luxo de esperar nas urgências do Hospital Distrital de Faro, têm sempre um remédio, pois "há as clínicas e os consultórios" para onde se podem dirigir. O Dr. Lourenço deixa transparecer que confunde o interesse da saúde dos algarvios com o interesse do partido que está no poder. Ou seja, está assim a modos que contaminado pelo óptimismo socratinista. E ao sugerir as "clinícas e os consultórios" como alternativa à espera do sistema de saúde público, o dr. Lourenço elaborou todo um tratado de justiça social da saúde em Portugal.
O Dr. Emídio, por sua vez, assim a modos de um João Semana ao contrário, vê a busca da distinção, até nas coisas da saúde. Para o médico, que por acaso é político, é impensável "um turista de luxo ficar numa maca num corredor de hospital". Um turista alojado num hotel de 500 euros por noite, no corredor das urgências, choca o dr. Emídio no âmago do seu bom coração. Não lhe terá ocorrido que este mesmo turista, é capaz de ser o mesmo que deveria ficar nas "clínicas e nos consultórios" do Dr. Lourenço, e menos ainda provavelmente lhe terá ocorrido também, que ninguém, mas mesmo ninguém, independentemente da sua condição económica e social deveria ser instalado nos "corredores de macas" (da morte?) dos serviços de urgências, sem o minímo de dignidade que assegure as suas condições de saúde e de tratamento na doença. O dr. Lourenço e o dr. Emídio deveriam por os pés na terra e olhar para as coisas da saúde para as traduzir em palavras, em vez de utilizarem as palavras, para tentar fazer delas, as coisas da saúde.
Ainda esta semana, um familiar meu, depois de uma entrada pela pediatria do Hospital Distrital de Faro, foi parar aos já célebres "corredores de macas" dos serviços de urgência. Para além de angustiado pelo que viu, veio de lá a dizer cobras e lagartos dos políticos que nos governam. E garanto-vos que as palavras que utilizou serviram de nomeação às coisas nomeadas. Daquilo que me confessou, não me pareceu que existissem por ali muitos "turistas de luxo". Mas quem sou eu para duvidar do Dr. Emídio? Eu nunca poderia pagar 500 euros, por uma noite, num quarto de hotel.
PS: Faltou-me dizer, que da leitura da reportagem, ficámos a saber ainda, que a directora clínica do Hospital não deixa os médicos ir para férias em Agosto para fazer face às necessidades. E quem é que do pessoal médico iria querer fazer férias em Agosto? Ora essa!
A cobertura jornalística em causa é uma autêntica relíquia demonstrativa de um determinado ethos do modo de pensar a saúde por parte de alguns dos principais responsáveis da saúde no Algarve. Do Dr. Rui Lourenço, ficámos a saber que estamos "preparadíssimos" para receber os turistas no Algarve; que o Algarve "é uma boa região para se ter um enfarte" e que se os malandros dos utentes não se quiserem dar ao luxo de esperar nas urgências do Hospital Distrital de Faro, têm sempre um remédio, pois "há as clínicas e os consultórios" para onde se podem dirigir. O Dr. Lourenço deixa transparecer que confunde o interesse da saúde dos algarvios com o interesse do partido que está no poder. Ou seja, está assim a modos que contaminado pelo óptimismo socratinista. E ao sugerir as "clinícas e os consultórios" como alternativa à espera do sistema de saúde público, o dr. Lourenço elaborou todo um tratado de justiça social da saúde em Portugal.
O Dr. Emídio, por sua vez, assim a modos de um João Semana ao contrário, vê a busca da distinção, até nas coisas da saúde. Para o médico, que por acaso é político, é impensável "um turista de luxo ficar numa maca num corredor de hospital". Um turista alojado num hotel de 500 euros por noite, no corredor das urgências, choca o dr. Emídio no âmago do seu bom coração. Não lhe terá ocorrido que este mesmo turista, é capaz de ser o mesmo que deveria ficar nas "clínicas e nos consultórios" do Dr. Lourenço, e menos ainda provavelmente lhe terá ocorrido também, que ninguém, mas mesmo ninguém, independentemente da sua condição económica e social deveria ser instalado nos "corredores de macas" (da morte?) dos serviços de urgências, sem o minímo de dignidade que assegure as suas condições de saúde e de tratamento na doença. O dr. Lourenço e o dr. Emídio deveriam por os pés na terra e olhar para as coisas da saúde para as traduzir em palavras, em vez de utilizarem as palavras, para tentar fazer delas, as coisas da saúde.
Ainda esta semana, um familiar meu, depois de uma entrada pela pediatria do Hospital Distrital de Faro, foi parar aos já célebres "corredores de macas" dos serviços de urgência. Para além de angustiado pelo que viu, veio de lá a dizer cobras e lagartos dos políticos que nos governam. E garanto-vos que as palavras que utilizou serviram de nomeação às coisas nomeadas. Daquilo que me confessou, não me pareceu que existissem por ali muitos "turistas de luxo". Mas quem sou eu para duvidar do Dr. Emídio? Eu nunca poderia pagar 500 euros, por uma noite, num quarto de hotel.
PS: Faltou-me dizer, que da leitura da reportagem, ficámos a saber ainda, que a directora clínica do Hospital não deixa os médicos ir para férias em Agosto para fazer face às necessidades. E quem é que do pessoal médico iria querer fazer férias em Agosto? Ora essa!
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