O que faz milhares de pessoas sairem à rua, numa noite de verão, vestidas de branco? Não vou entrar aqui em justificações marxistas centradas na alienação das massas e do ópio do povo, ou mesmo em justificações manipulatórias do género pão e circo. As pessoas saiem à rua porque há, por um lado, quem ofereça a festa na rua e há por outro lado, quem procure a festa na rua. Apesar da festa não ser de borla, porque é paga pelo contribuinte, ela não deixa de ser de entrada livre. Esta é por si só uma boa justificação. Mas não deixa de ser interessante, na era dos indivíduos (do vazio diria Lipovetsky) a constatação deste fenómeno avassalador da adesão massiva à cor branca. Algo me diz que há aqui uma enorme vontade de identificação e de pertença. A cor é só mais um bom pretexto. As pessoas saiem em massa há rua pelos mais variados motivos, mas saiem sobretudo porque a festa lhes faz sentido e porque se querem entreter e sobretudo, pertencer. Do pouco que vi (para mim pessoalmente a festa é um vazio) a actividade principal da festa é ver e ser visto. E neste jogo do ver e ser visto é muito interessante como no meio da ideologia da normalidade se destacam subtilmente as distinções mais coloridas. O branco que aparentemente é só um, desmultiplica-se em branco de todas as cores. Há o branco "fino", "chique", de corte requintado. O branco "sexy" cuja ocasião nos faz sentir únicos/as. Há o branco "vulgar" que se veste à pressa para estar no espírito da festa. Há o branco "desportivo" ao jeito do calor de Verão. O branco "abandalhado" ao jeito do vestir do resto dos outros dias. O branco "pequeno burguês", aquele que nos obriga a não fazer "má figura". O branco que "desfigura" o corpo, porque toda a santa roupa desfigura o corpo. O branco que "descobre" o corpo uma vez que lhe dá outra relevância. Há o branco de "alto a baixo" que não deixa ver o corpo. Há o branco "disfarçado" de branco que é aquele branco assim para o sujinho. Há o branco de "fim de semana" muito ao género do fato de fim de semana. Há o branco "decorativo", nas árvores das avenidas, que neste dia, poderia, nos nossos delírios imaginativos, significar "paz" e "harmonia". Enfim, todos os tipos imagináveis de branco. No âmbito da ideologia das cidades criativas parece-me bem esta ideia do branco. No âmbito da falsa ideia de salvação do comércio, parece-me muito, uma falsa ideia vestida de branco. De toda a forma, parece ganhar o comércio das bebidas e das comidas, cujos donos vestem um branco interessado. É concerteza uma boa maneira de vender a visita à cidade e de lhe dar vida por um dia. De resto, tudo muito vazio, com muita forma e pouco conteúdo. Mas e quem disse que estamos na era do conteúdo? A era é da forma. De estar em forma e na forma. Chill Out para vocês também!
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domingo, agosto 29, 2010
Devaneios Esbranquiçados
Faço da vida um caminho em que a felicidade está nas pequenas grandes coisas que o mundo nos permite desfrutar.
"Carpe Diem"
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