As férias dão cabo de mim
Tanta gente preocupada com a falta de produtividade do país, tanto economista a queimar as pestanas para encontrar as razões do nosso atraso, e ainda ninguém se deu ao trabalho de estudar a relação entre a deficiente produtividade portuguesa e a decadência das taxas de natalidade. Mas eu tenho uma tese sócio-demográfico-económica que explica o porquê de estarmos sempre com o nosso estatístico nariz enfiado na cauda da Europa. Reza assim: o pessoal trabalha pouco porque basicamente deixou de ter filhos.
A comprovação de tal tese é simples e pode ser subscrita por uma altíssima percentagem de pais: quando se tem filhos, o amor ao trabalho aumenta exponencialmente. Mal pomos no mundo um montinho de criancinhas rechonchudas e dadas a uma vasta gama de amuos, birras e trapalhadas, a contribuição para o PIB do país dispara em flecha. Posso dar o meu exemplo. Neste momento, encontro-me de férias com a Carolina (seis anos), o Tomás (quatro anos) e o Gui (dois anos), três crianças adoráveis, encantadoras, activas e tão ligadas à corrente que não vejo a hora de voltar ao trabalho para poder, enfim, descansar.
(Aliás, se o caro leitor está a ler esta página no meio de Agosto é só mesmo porque graças a ela tenho algumas horas de repouso semanal em frente ao portátil e uma excelente desculpa para impingir os miúdos à minha mulher: "Ó amor, hoje vais ter de ser tu a fazer o T8 de areia e conchinhas com o Tomás, está bem? Eu queria muito, mas tenho MEEEESMO de trabalhar").
A língua portuguesa já devia ter arranjado um nome específico para designar o tempo que os pais passam com filhos menores de seis anos quando a escola está fechada e eles são obrigados a dedicar-lhes a totalidade dos dias. Chamar a isto "férias" parece-me uma inadmissível distorção do significado original da palavra. Não se pode atribuir o mesmo nome à actividade praticada por uma família de cinco em Armação de Pêra e à de dois adultos saudáveis em Bora Bora.
Quando estes belos 15 dias chegarem ao fim, vou estar mais queimadinho psicologicamente do que um recém-doutorado em física nuclear e mais esgotado fisicamente do que um ciclista que tenha trepado os Alpes suíços no pino do calor. Há seis longos anos que é assim: preciso de meses e meses de trabalho para recuperar das férias de Verão.
Crónica de João Miguel Tavares
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/joao-miguel-tavares/as-ferias-dao-cabo-de-mim
PS: Dia 23 de Agosto de 2010, entrava eu no Centro de Saúde de Loulé. Eles ganharam. Fiquei KO. Venha o trabalho que não aguento mais.
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terça-feira, agosto 24, 2010
Não é Preciso Ser César Para Compreender César
Faço da vida um caminho em que a felicidade está nas pequenas grandes coisas que o mundo nos permite desfrutar.
"Carpe Diem"
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