Faço hoje um mês de confinamento, prisão domiciliária, isolamento social, quarentena, como quiserem chamar. Amanhã regressa a escola. Aqui por casa há duas pessoas em tele-trabalho e duas crianças em tele-escola (o senhor Secretário de Estado da Educação não gosta da designação mas a vida é o que é). Portanto, quatro portáteis à custa do endividamento privado familiar. O senhor Ministro da Economia e da Transição Digital hibernou e o senhor Ministro da Educação aparentemente não conversou à distância com o seu colega da Economia e da Transição Digital para lhe fazer ver que o contexto de ensino à distância vai agravar brutalmente as desigualdades educativas e sociais. Milhares de alunos não têm computador disponível em casa, há casas onde os pais estão em teletrabalho e não têm computadores disponíveis para os seus filhos acompanharem a escola, há casas onde a internet não existe ou a frágil largura de banda faz com que ela não funcione. O Ministério da Educação e bem numa tentativa desesperada de assegurar o funcionamento do ano lectivo decretou o ensino à distância (e bem) e recomendou o acompanhamento dos pais para assegurar que os filhos cumprem as tarefas escolares. Ora isto num país em que se sabe de ciência certa que o capital escolar dos pais é a variável mais decisiva no aproveitamento escolar e no percurso de sucesso dos seus filhos tem tudo para exarcebar de forma forte as desigualdades sociais face à educação já bem conhecidas cientificamente na nossa praça. Fazer omoletes sem ovos é o que o Ministério da Educação pede agora às familas e em particular às famílias mais desfavorecidas socioeconomicamente. O Senhor Ministro da Economia e da Transição Digital é dos poucos Ministros que poderia fazer desta crise uma oportunidade para melhorar o futuro do país e das nossas crianças e jovens. Quando precisavamos de um Ministro descobrimos que temos um homem de negócios. A educação inclusiva está temporariamente suspensa da vida das escolas e das famílias.
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