O sociólogo Boaventura Sousa Santos afirmou hoje que os líderes políticos em Portugal, incluindo o Presidente da República, “não estão à altura deste momento” de crise que se vive no país e defendeu a realização de eleições antecipadas.
“É nos momentos de alguma conturbação política que se mostra a qualidade dos líderes”, mas, de “todos os envolvidos” na crise nacional, “nenhum deles, incluindo o Presidente da República, está à altura”, disse Boaventura Sousa Santos à Lusa antes de participar num debate organizado pelo Centro de Estudos Sociais, em Lisboa.
Afirmando-se “bastante cético” sobre o futuro político imediato, o sociólogo e militante de esquerda não tem dúvidas de que “a bola está no Presidente da República”, a quem cabe “dar um murro na mesa, dizer basta e convocar eleições antecipadas”, que deviam realizar-se “em conjunto com as autárquicas.
Até agora, Cavaco Silva “não deu nenhuma prova de querer ter protagonismo”, a não ser no sentido de “salvar este Governo até à última”, observou.
O diretor do Centro de Estudos Sociais não acredita que haja “espaço para nenhum governo de iniciativa presidencial”, vendo na atual crise “o ato final” do Governo PSD/CDS-PP.
Estudioso dos movimentos sociais mundiais, Boaventura acredita que vai surgir “a centelha” que levará os portugueses, em massa, às ruas.
Reconhecendo que o povo tem sido “demasiado sereno”, o sociólogo justifica com os 48 anos de ditadura e “alguma instabilidade na conceção de vida democrática”, que afasta as pessoas das manifestações.
Por outro lado, “até agora, os portugueses não se deram conta da gravidade da situação”, nem de que “as medidas anunciadas como temporárias” serão, afinal, “permanentes”, acrescenta.
“Não há nada nos portugueses que leve a dizer que eles são mais mansos ou tranquilos, mais rebanho do que outros países”, realça, frisando que falta descobrir onde estará “a tal centelha que incendeia”.
No Brasil, recorda, foi o aumento em vinte cêntimos nos transportes. “À medida que se vai acumulando descontentamento, há depois algo que faz transbordar a taça”, observa, destacando: “Os portugueses não são uma ave rara, não são um animal de jardim zoológico. Vão, obviamente, revoltar-se, quando as condições se oferecerem. Até agora, estamos num misto de estado choque e de espera.”
Por outro lado, os mercados recorrem à “manipulação do medo”, avisando que “isto está mau mas, se se revoltarem, vai estar muito pior”, critica. “Qualquer ato de desobediência dispara o juro”, exemplifica, frisando que os portugueses são “vítimas de um drone mental”.
Mais tarde ou mais cedo, vai ser adotada uma medida concreta que incendiará a centelha, sendo imprevisível saber quando e como se manifestará a população.
Para já, haverá “uma suspensão da rua”, como sempre acontece perante crises políticas. “As pessoas ficam à espera de ver o que vai suceder”, explica, realçando que “a agenda da rua, das manifestações, tem de ser outra” e avisar, desde já, o próximo Governo de que será punido se mantiver a política atual.
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