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terça-feira, julho 02, 2013

Grave, grave, é o silêncio da esquerda e dos sindicatos face à criminalização do protesto social

Toda a contestação será castigada
 
Por Nuno Ramos de Almeida
retirado de
http://www.ionline.pt
 
A destruição do Estado social e o roubo dos salários e das reformas em prol da manutenção dos negócios das PPP e dos swaps só é possível calando o povo
 
No dia da greve geral foram detidas durante horas em campo aberto, com o objectivo de serem identificadas e notificadas para irem a processo sumário, 231 pessoas. O crime delas, segundo afirmaram alguns advogados, foi atentarem contra a "segurança rodoviária". Estranho delito que se confunde com o direito à manifestação e é perpetrado quando centenas de pessoas, conduzidas e enquadradas por polícias não praticam nenhum acto violento, se limitam a manifestar-se, a gritarem palavras de ordem, dançar e cantar na rua slogans a favor da greve geral. A pena proposta para tão nefando crime são oito anos de cadeia.
 
Recentemente, uma pessoa que mandou trabalhar o Presidente da República, juntando-lhe mais algumas palavras alusivas à sua prestação ímpar, foi, inicialmente, condenada em processo sumário a pagar uma multa de 1300 euros. Há poucas semanas, os polícias detiveram no Porto um grupo de jovens comunistas que pintavam um mural de apoio à greve geral. Impediram que falassem à sua advogada. As testemunhas garantem que foram agredidos. A maioria parlamentar está a legislar para impedir pinturas murais e limitar a propaganda política nas ruas. Fala-se de estabelecimentos de multas até 25 mil euros.
 
Quando comparamos a mão pesada da justiça contra a contestação política com a brandura e a incompetência do sistema democrático a julgar as pessoas que roubaram o Estado, esvaziaram os cofres do BPN, assinaram contratos de parcerias público-privadas ruinosas, encheram os bolsos dos banqueiros com dinheiros dos contribuintes na compra de swaps e outras manobras poucos claras, percebemos que os manifestantes são condenados pela mesma razão por que aos corruptos nada acontece: o sistema é feito para proteger os ladrões poderosos e atacar os militantes políticos que o contestam.
 
Para sobreviver à crescente oposição das pessoas à política do governo, a equipa de Passos Coelho quer transformar as manifestações, as greves e as acções de rua em caso de polícia. Só assim se podem entender as tentativas de restringirem o direito à greve e à manifestação de rua. Aqui como nos cortes sociais, o governo tende a esquecer as leis da democracia. Em Portugal, depois de derrubar uma ditadura de 48 anos, a Constituição garante direitos e liberdades e diz claramente que o direito à manifestação não precisa de autorização.
 
Para fazerem passar a sua agenda económica de empobrecimento generalizado da população, os governos da troika estão a executar uma desvalorização profunda dos direitos das populações, rasgando as suas leis e subvertendo as regras da democracia a favor de um alegado interesse comum em tempos de crise, que se resume aos interesses dos banqueiros e dos credores. Só reduzindo-nos ao silêncio podem levar avante esta política de roubos.
 
Para tornarem toda a contestação criminalizável fazem uso da mentira e de todos os expedientes, para criarem na opinião pública a ideia de que aqueles que estão contra as políticas do governo são meia dúzia de pessoas, "desordeiras" como lhes chamam. Daí o aparecimento de "notícias" com recurso a fontes anónimas policiais que inventam armas e cocktails molotov, com a mesma seriedade com que antes inventaram milhares de elementos dos black block nas ruas de Lisboa. Vivemos tempos de intoxicação que precedem a destruição da liberdade de todos.
 
Em todos estes processos joga-se simplesmente a nossa liberdade.

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