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terça-feira, fevereiro 28, 2012

Centro de Saúde de Loulé

Onze e um quarto da noite chego ao Centro de Saúde de Loulé. O Pedro está com dores de cabeça, tem vómitos e dói-lhe o estômago. Dirijo-me ao balcão de atendimento. Não está ninguém no atendimento. O segurança está sentado a ler o jornal. As cadeiras estão todas ocupadas por utentes. Depois de algum tempo de espera resolvo perguntar ao segurança se a funcionária está de férias. Responde-me que se tivesse de férias o guichet estaria fechado. Diz-me que deve estar "lá para dentro". Passado um bocado chega a funcionária que faz o atendimento. Marco a consulta e digo-lhe que quero uma cadeira para o meu filho se sentar. Vai "lá dentro" e diz-me que não há cadeiras. Digo-lhe para chamar o responsável pelo Centro de Saúde. Diz-me que o Centro de Saúde não tem responsáveis à noite. Só de dia. Deixa escapar entre dentes "o que é que haveria de aparecer agora aqui". Digo-lhe para não brincar comigo e pergunto-lhe se acha aceitável que o meu filho estando doente não tenha sequer direito a ter uma cadeira para se sentar enquanto espera pela consulta. Digo-lhe que ainda não vale tudo na nova era do fascismo. Peço o livro de reclamações. Escrevo o que disse à senhora, que é uma vergonha que as pessoas fiquem de pé, doentes, à espera de consulta. Entretanto uma cadeira fica vazia. Sento o meu filho e espero em pé. Passado uma hora e um quarto e depois de passar à frente de algumas pessoas que já lá estavam quando cheguei (não sei bem porquê) entro no consultório do médico. O Pedro entretanto tinha-se deixado dormir. Não o consigo acordar. O médico manda deitá-lo na maca. Apalpa-lhe a barriga e diz que a barriga está molinha. Pergunta pelos sintomas que já tinha indicado na triagem. Dor de cabeça, vómitos e dor de estômago. Mede-lhe a febre. Não tem. O Pedro quase que acorda mas não consegue acordar de todo. Não durou um minuto. O médico diz que se calhar é uma gastroentrite uma vez que "anda por aí o vírus". Levanto o Pedro enquanto este ainda se encontra em estado sonâmbulo. O médico diz-me para que fique em casa e que faça dieta. Fala um espanhol que não é totalmente claro para mim. Entretanto, na rua o Pedro lá despertou. Toda a experiência é do domínio do surreal. A saúde na era da Troika mata. Toda a gente cá em casa já nem pode ouvir em ir ao Centro de Saúde de Loulé. Uma aventura arriscada. O Pedro também não gosta.

Actualização: São 8h15mn da manhã seguinte. O Pedro acordou com durões e dores no pescoço e estamo-nos a preparar para abalar para os serviços de pediatria do Hospital de Faro. Durante a noite entre um sono mal dormido, fiquei a pensar se a atitude, meio laxista, meio indiferente, do médico em relação ao Pedro pode ter tido alguma relação com o facto de ter reclamado de não haver cadeiras disponíveis no Centro de Saúde para o meu filho de sentar. Espero eu estar a ver coisas mediadas pela minha zanga com a Troika. Caso contrário estamos perante uma discriminação muito grave e os médicos têm um código deontológico a cumprir. Prefiro pensar que foi só um mau dia para o médico em causa. Todos temos. Acabo de ver também no jornal da manhã que as farmaceuticas deixaram de fornecer medicamentos, alguns dos quais insubstituíveis. Sim, já somos a Grécia.

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