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quinta-feira, fevereiro 16, 2012

A Armadilha Austeritária


Sou daqueles que defende que a austeridade é o problema. Não a intensidade da austeridade, nem o ritmo da austeridade, mas austeridade tout cour. Neste sentido não há austeridade "digna" e muito menos "inteligente" pois que considero que o austeritarismo é em si mesmo um "erro colossal". A austeridade tem associada a si mais desemprego (a maior taxa jamais vista na sociedade portuguesa); o empobrecimento de uma parte significativa da população portuguesa (perto de um quarto da população que vive em território nacional actualmente); o abaixamento geral dos níveis salariais para níveis há muito nunca vistos; a facilitação dos despedimentos; o aumento da falência de famílias e empresas; o aumento da taxa de suícidios; muito provavelmente o aumento das taxas de criminalidade; a retirada da protecção social quando ela era mais precisa; a mercadorização do Serviço Nacional de Saúde; a elitização dos sistemas de ensino superior afastando os estudantes da frequência do Ensino Superior por razões meramente económicas; o aumento brutal da carga fiscal o que torna a vida económica das empresas impossível; o aumento da conflitualidade social, do medo e do ressentimento das classes médias face ao inesperado confronto com súbitas trajectórias de mobilidade social descendente; a privatização dos melhores recursos públicos a preços de saldos, as transfêrencias massivas dos rendimentos do trabalho para o capital; a injecção de dinheiros públicos massivos na banca privada sem a consequente socialização dessa mesma banca. A lista associada à gravidade da situação é interminável. Já aqui escrevi, o plano da Troika é uma armadilha brutal. Não se discutindo as medidas prescritas no plano e naturalizando-se as mesmas como "boas", só resta responsabilizar quem as tem que aplicar ao nível da sua implementação. A partir daqui entra-se no círculo vicioso da irresponsabilidade austeritária. Como o "problema" é o "défice" de implementação do plano, tudo o que falhar só pode ser "culpa" do "mau" povo Grego e no futuro, do "mau" povo português. Em resposta à "incompetência" associada à "essência" dos povos só nos resta ministrar uma nova dose "austeritária" numa reprodução ad infinito que só parará quando qualquer dos países intervencionados estiver de rastos. Nós já vimos esta história na América Latina. Tenho muito receio que mais uma vez as lições que a História nos poderia dar não vá servir para nada. A cegueira ideológica colectiva é monstruosa.

Foto tirada daqui:
http://dezinteressante.com/?p=24702

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