Em solidariedade com a Comissão de Utentes da Via do Infante fui este Sábado de manhã participar numa acção de protesto contra a introdução de portagens na Via do Infante. Desde que Sócrates chegou ao governo, que algum do tempo do meu fim de semana que dedico habitualmente a "avançar" no trabalho, se "perde", em acções de cidadania, que as almas mais conservadoras e retrógadas rotulariam de "subversão" da ordem social. Nunca ao longo da minha vida um governo me deu tanto prejuízo pessoal.
Dez e quarenta e cinco da manhã estou a tomar o pequeno almoço no histórico café Cavaco. Em frente, no jardim de São Francisco, um grupo de crianças que não chegavam aos seus dez anos, acompanhados por um grupo de adultos, despertava consciências para a importância das questões ambientais.
Chego ao lugar do encontro, no Convento de Santo António e algumas impressões me percorrem a alma. A primeira diz respeito ao estado de degradação da zona exterior ao convento. Para quem quer fazer do mesmo, um cartão turístico de visita, era bom que se pensasse a requalificação do seu espaço exterior.
Em frente, aprendi nesta mesma manhã que estava a funcionar o mercado que é conhecido pelo "mercado dos ciganos". Sou confrontado, no imediato, com uma das mais poderosas marcas de segregação espacial, social e "étnica" dos territórios contemporâneos. O chão de terra batida está enlameado devido à chuva dos últimos tempos. Os ciganos são decididamente gente que toda a gente quer bem longe de si.
Dirijo-me então com os meus colegas de manifestação à casa da Mãe Soberana. Subo a mítica ladeira que dá acesso à capela e penso imediatamente nos bravos Homens do Andor que na grande festa da Mãe Soberana têm a coragem de a levar por ali acima aos ombros. Com quase cem quilos de peso, corro atrás do meu parceiro de faixa de protesto, pensando que a causa vale o esforço. Chegamos quase ao mesmo tempo da comitiva oficial.
Agarro num extremo da faixa com a mensagem de protesto e fico ali, firme e hirto, sabendo que a faixa falará por si própria. Comigo está gente de meia idade, gente responsável que exerce as suas profissões e que acha que a causa merece o seu tempo e esforço no investimento da cidadania em prole da região do Algarve.
Tudo a decorrer com a maior serenidade quando, de repente, vindo não se sabe de onde, um adjunto do governo civil se dirige a um dos elementos do grupo, que segura numa faixa de protesto e se empolga numa veemente contestação ao acto de cidadania que ali estava a ter lugar. O clima sereno do protesto por momentos pareceu entrar em ruptura. A acesa troca de palavras por pouco não gerava um desnecessário "incidente" de pancadaria. Não fica nada bem a um adjunto do governo civil a manifestação de um acto de cultura não democrática perante os cidadãos do Algarve.
O protesto, tal como a greve, é um direito consagrado constitucionalmente na República Portuguesa. Que o senhor adjunto do governo civil tenha outra opinião sobre as portagens na Via do Infante, está em todo o seu direito em tê-la. Não pode, até em função do cargo que representa, medir a democracia portuguesa, pela sua concepção reduzida de democracia, sob pena de qualquer dia, esta deixar de o ser. Afinal de contas, aquilo que verdadeiramente interessa aqui, é que todos os cidadãos defendam os interesses do Algarve e dos algarvios. A "estrada da morte", lembram-se?
PS: A foto em cima retrata um dos membros da Comissão de Utentes da Via do Infante no momento do protesto.
Está a Comissão de Utentes da Via do Infante a ponderar elaborar uma queixa contra esse adjunto (Sérgio Viana), por ofensa, incorrecção profissional em funções e tentativa de limitação da liberdade de expressão de cidadãos!
ResponderEliminarFoi este Sr. protagonista de uma acção provocatória de uma manifestação ordeira se, com esse acto pretendeu desacreditar o protesto, saiu o próprio envergonado perante alguma imprensa que a ele assistiu...