O mais dramático desta Commedia dell'Arte em torno do orçamento de Estado de 2011 é que todos estão de acordo que o orçamento é mau. Mas mesmo a palavra "mau", como qualquer outra palavra, quando usada ad nauseum nos discursos do senso comum político, de tão saturada de sentidos, fica ela própria esvaziada de sentidos. Vamos ser claros, "mau" significa aqui o maior ataque ao "Estado Social" de que há memória desde o 25 de Abril de 1974, altura em que o dito Estado Social era quase inexistente. "Mau" significa aqui, maior desprezo pelos desempregados, aumento significativo da pobreza e da fome em Portugal. "Mau" significa aqui, estagnação ou mesmo recessão económica, quebra significativa do débil nível de vida de boa parte dos portugueses e a hipoteca do futuro das actuais e das futuras gerações. "Mau" não pode ser aqui um rótulo algodão doce que cola a uma qualquer realidade, como se ela fosse uma qualquer outra tirada a tiracolo de um conto de fadas. Desculpem a minha imbecilidade apátrida. Mas quando algo é "mau" ao ponto de significar um verdadeiro horror económico eu não sei como poderia não votar contra. A solução é votar contra e formular um novo orçamento. Alguém sabe quanto tempo tiveram os Belgas, recentemente, sem conseguir formar governo? Sim, em pleno coração da União Europeia. Não consta que a Belgica tenha chegado ao fim da sua História. Mais dramático do que a não aprovação deste orçamento é o uso da cultura do medo, das ilegitimas pressões vindas de todos os lados e da ameaça e da chantagem permanente sobre as populações para que estas aceitem passivamente e "responsavelmente" as decisões deste bloco central de interesses altamente irresponsável. Essa é a verdadeira Commedia dell'Arte. É mais do que altura de acabar com ela.
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