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segunda-feira, setembro 20, 2010

Alô Brasil



"Dizem que Deus é brasileiro; Lula, claro, também é: deixa a presidência com o apoio de quase 80% dos brasileiros, abrindo assim caminho à confortável eleição da sua camarada Dilma Rousseff. Isto apesar da hostilidade dos media. É a economia, estúpido! Que economia? A que se tornou um pouco menos desigual graças à acção dos poderes públicos. Um país que forjou, além disso, uma política externa independente, visível nas alianças com os seus progressistas vizinhos e na forma como recusou as pretensões dos EUA, que queriam transformar o continente numa imensa "zona de comércio livre", num imenso México.

Os factos, esses, são impressionantes: 14 milhões de postos de trabalho criados no sector formal; redução do número de pobres, que passaram de 77,8 milhões (42,7% da população) para 53,7 milhões (28,8%); ou redução de 62% na desnutrição infantil. Tudo entre 2003 e 2008. É o que dá expandir decisivamente as políticas sociais, como o programa Bolsa Família, uma espécie de rendimento mínimo garantido que beneficia um cidadão brasileiro em cada cinco, ou aumentar o poder de compra do salário mínimo mais de 50%.

De facto, a expansão do mercado interno, graças ao assinalável crescimento do rendimento das classes populares, é uma das heranças de Lula e explica o relativo sucesso económico e a resistência à crise, sobretudo quando comparamos com os mandatos retintamente neoliberais de Fernando Henrique Cardoso: o crescimento cumulativo do Produto Interno Bruto (PIB) atingiu cerca de 23% entre 2003 e 2010, contra 3,5% nos anos do anterior presidente. Rompe-se assim com as décadas perdidas do neoliberalismo à FMI, quando o PIB cresceu cumulativamente, entre 1980 e 2000, apenas 4%, mas ainda estamos longe dos níveis de crescimento das décadas de políticas desenvolvimentistas do pós-guerra.

Hoje, o Brasil tem a vantagem de não ter um PEC, como nós, mas sim um PAC - Plano de Aceleração do Crescimento -, assente na modernização das infra-estruturas do país e numa certa recuperação da tradição desenvolvimentista, que impediu novas privatizações e deu um novo impulso ao papel do Estado, visível, por exemplo, nas regras de exploração dos novos recursos petrolíferos do país.

No entanto, Dilma tem de fazer rupturas se quiser aprofundar as transformações progressistas: da excessiva dependência do agronegócio, que impediu uma reforma agrária digna desse nome, à infeliz manutenção das estruturas de uma economia ainda financeirizada e rentista, graças às elevadas taxas de juro e a um real sobrevalorizado, passando pela corrupção que mina a confiança nos poderes públicos. No entanto, pode dizer--se que o "escândalo do mensalão" até facilitou o actual sucesso político ao levar, entre outros, à demissão do "conservador" ministro da "fazenda", substituído pelo excelente economista Guido Mantega, e ao dar um novo protagonismo a Dilma. Esta só depende agora da capacidade de mobilização do povo. É que Deus pode ser brasileiro, mas é a "mão invisível do povo", a que Lula aludiu um dia, que em última instância faz a diferença."

João Rodrigues no i e no Ladrões de Bicicletas
Economista, Centro de Estudos Sociais

4 comentários:

  1. Muito bom esse texto, João.

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  2. João,
    Parabéns por este texto magnífico...
    Sem dúvida que ousando opôr-se e travar os intentos dos "poderosos" do mundo, o Presidente Lula da Silva vem transformando o seu país num caso de verdadeiro sucesso económico, tendo como farol a irradicação da pobreza.
    Que todos juntos, os países progressistas deste continente sirvam de tampão aos ataques desenfreados dos EUA e dos acólitos.
    E que a sua história sirva de lição a muitos que andam por aí... a "matar" os povos... em nome do socialismo moderno.
    Bem haja... Lula.
    Aproveito João, para te solicitar a possibilidade de postar este texto no blogue Lemma.
    Um abraço.

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  3. Olá Cesar (abraço amigo aí para Porto Alegre!) e Lua (abraços para o Norte de Portugal!),

    O texto é do João Rodrigues do blogue Ladrão de Bicicletas. Um blogue de excelência sobre economia política e política económica fora da orodoxia económica. Vale a pena acompanhar este blogue.

    Abraços aos dois
    João Martins

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  4. Eu concordo com vc em parte. Eu nasci em Recife, me criei no litoral de Sao Paulo. Nao só Recife, mas em todas as cidades gde do Brasil existe este contraste do qual vc refere da desigualdade social. Veja Rio de Janeiro por exemplo que é um lado morro, favelas, guerras de traficantes e do outro o glamour e a riqueza. Melhor que destribuir bolsa alimentos, seria criar emprego para os pais de familia, melhor educaçao para as cças, melhor formaçao de professores, etc. Eu nao critico o governo Lula. Vejo que fora do Brasil falam muito bem dele. Só acho que a tática deveria ser outra, ao invés dessas bolsas que inventaram, que nao é somente a de alimentos, existem muitas mais. Enfim, nao entendo de política, mas acredito que a má distribuiçao da renda começa pelos governantes. Se fosse interessante para eles, acabariam de uma vez com a miséria do BRASIL.

    Um abraço e me alegra que vc curta os e- mails que te mando.

    E-mail de uma brasileira que trabalha em Espanha em resposta a um e-mail meu que elogiava as políticas sociais de Lula...
    Ela e muitos brasileiros pensam igual e não deixam de ter razão. Melhor que oferecer o peixe para comer seria dar a cana para pescar...Ou seja criar as estruturas necessárias para verdadeiramente acabar com a miséria existente no Brasil. Deixar de ver mães com 5, 6, 7 filhos dormindo nas ruas para pedir esmola; deixar de ver crianças de 6, 7 anos nas ruas cheirando cola quando o lugar delas seria na escola; criar condições para que quem vive nas favelas tivessem possibilidade de arranjar trabalho em igualdade de circunstâncias; que os políticos, lá, como cá, deixassem de ser tão corruptos!!! Mais havia para acrescentar mas não gosto de me alongar...

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