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segunda-feira, julho 19, 2010

Contágios



"Nos meandros das relações sociais, como nos versos da "Quadrilha" composta por Carlos Drummond de Andrade, há várias indicações de contágio comportamental. Cientistas norte-americanos chegaram à conclusão de que um divórcio num círculo de amigos nunca vem só. Os números impõem respeito: quando um amigo próximo se divorcia, a probabilidade de ser o seguinte aumenta 147%. E se for o amigo de um amigo? É verdade que a probabilidade cai, mas ainda há um risco acrescido de 33%. Para piorar um pouco as coisas, nos casais sem filhos o risco é seis vezes maior.

James Fowler, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, é um dos autores do trabalho que vem complementar o livro "O Poder das Conexões", publicado no final do ano passado e que inclui o polémico estudo sobre o "contágio social" da obesidade, que diz que ter um amigo obeso aumenta 57% a probabilidade de se aumentar de peso.

Na base deste novo trabalho estão dados do "Framingham Heart Study", uma investigação que começou em 1948 no Massachusetts sobre a incidência de doenças cardiovasculares, mas que tem servido para todo o tipo de inquéritos sobre comportamento. "Descobrimos que o divórcio se espalha entre amigos, irmãos e colegas de trabalho e que há clusters de divorciados que se estendem até dois graus de separação [quando se pensa numa rede]", diz o artigo provisório disponível online. Outra conclusão do estudo aponta para que uma pessoa divorciada tenha duas vezes mais probabilidades de se voltar a casar com outros divorciados; por outro lado, quanto mais popular é a pessoa, menos hipóteses tem de se divorciar por via de contágio. Ter um irmão divorciado representa um risco de 22% de contagio, e embora os especialistas não tenham encontrado provas de influência entre vizinhos, descobriram uma influência forte entre colegas de trabalho: uma pessoa com um colega divorciado tem 55% mais probabilidades de se divorciar.

Filhos protectores: Segundo os investigadores, foi possível confirmar o "efeito protector" das crianças quando se trata de avançar para um divórcio: o senão é que só funciona a partir dos três filhos; em casais sem prole o impacto é seis vezes maior.

"As redes sociais tendem a ampliar tudo aquilo em que se sustentam - apesar de também podermos pensar que este processo funciona no sentido inverso", diz ao i Fowler. "Durante muitos anos, a pressão social provavelmente preveniu o divórcio", sugere como contraponto deste estudo.

As estatísticas revelam tendências compatíveis com o trabalho, também em Portugal. Segundo dados do INE, o número de divórcios em Portugal duplicou entre 1990 e 2000, a uma taxa de crescimento anual de 8,1% - entre 2000 e 2008 o crescimento anual abrandou para os 4,1%. "Não diria que a ciência explica por completo o divórcio ou a obesidade, mas é cada vez mais claro que as redes sociais têm um papel poderoso na nossa saúde física e social", diz Fowles."

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