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terça-feira, abril 13, 2010

Exposição Sobre o Abate de Árvores no Concelho de Loulé

Loulé, Abril de 2010

O Parque Municipal de Loulé já não é assim...



As grandes questões de fundo...

Arquitectura paisagista: que futuro?

Por Elsa Severino, Arquitecta paisagista

O curso de arquitectura paisagista foi fundado em Portugal em 1941, no Instituto Superior de Agronomia, por Francisco Caldeira Cabral; foi ‘O Mestre da Paisagem’, conforme título da pequena, mas preciosa biografia, publicada neste mesmo jornal, a propósito das comemorações do centenário do seu nascimento. Formou muitas gerações de arquitectos paisagistas, leccionando em Portugal e um pouco por todo o mundo, sendo, ainda hoje, uma referência a nível internacional. Os fundamentos da arquitectura paisagista (título de uma obra sua) foram amplamente divulgados, tanto ao nível académico como nos diversos meios políticos e institucionais.

Desde então, várias gerações de arquitectos paisagistas contribuíram para levar a mensagem e fazer valer uma nova ‘ordem’ paisagística, assente nos valores perenes do território.

A mensagem foi ouvida e lida, mas foi aplicada? A disciplina, aparentemente tão na ordem do dia, estará completamente enraízada no ‘panorama’ português e na legislação que regulamenta as várias actividades? Diremos que não.
Quanto à legislação, aconteceu o maior ataque ao bom desempenho dos arquitectos paisagistas, com a publicação em Diário da República, da Portaria n.º 1379/2009.

Qual a dramática conclusão a que chegamos, após análise da mesma? Para as obras de maior relevância e complexidade, no âmbito do paisagismo, o director de obra ou da fiscalização nunca poderá ser um arquitecto paisagista; só pode ‘coadjuvar’. Já nas obras de menor importância, o arquitecto paisagista, graças à generosidade do legislador, pode fiscalizar e dirigir a obra, não sendo no entanto obrigatória a sua participação.

São pormenores, pensarão alguns; outros dirão que, em época de forte crise económica, qual a importância destes factos?
Pois estes ‘pormenores’ são gravíssimos e lesam em muito o âmbito da nossa profissão.

O texto da portaria é um sinal claro dos tempos: um gigantesco retrocesso na avaliação e dignificação da arquitectura paisagista e da sua importância em muitos domínios da nossa actividade. Importância?

O ordenamento da paisagem urbana e rural é um dos fundamentos da nossa profissão. A sua desvalorização contribui para um agravamento das condições ambientais, com graves repercussões económicas e sociais, além duma clara diminuição na qualidade de vida de todos nós.

Inevitavelmente sofremos o efeito de catástrofes naturais, com tendência para um sério agravamento na intensidade e frequência. Se somarmos a esta tendência um contínuo desrespeito pela paisagem, uma vezes por ignorância, tantas outras por razões meramente especulativas, caminhamos para um futuro muito sombrio.

Inexplicavelmente continuamos a alienar para a construção civil solos de elevada qualidade, construímos em leitos de cheia, não respeitando o livre curso das linhas de água, não tratamos das matas, sofrendo ano após ano o efeito devastador dos fogos; não investimos na educação ambiental, não valorizamos os espaços verdes, como uma ‘arte de ordenar o espaço exterior em relação ao homem’.

Ao limitarmos, premeditadamente ou não, a intervenção da arquitectura paisagista, comprometemos todo um equilíbrio entre o Homem e a Natureza.

Esta «profissão do nosso tempo, bem marcada com a preocupação do bem comum, defende a primazia dos valores espirituais sobre os económicos, das soluções permanentes sobre a estreita visão do actual, sem antes nem depois...», assim pensou e escreveu Francisco Caldeira Cabral, o nosso mestre da paisagem.

Elsa Severino, Arquitecta paisagista
Artigo de opinião do jornal SOL de 09/04/2010

1 comentário:

  1. A Arquitecta Elsa Severino poderia ajudar muito, nestes tempos de abate desenfreado, a organização da Paisagem Urbana de Loulé. Ou dito de outro modo: Nem todos os Paisagistas seguem o Mestre Francisco Caldeira Cabral!

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