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quinta-feira, dezembro 18, 2008

A Grecia Mediatizada: Esconder Mostrando

Conflitos na Grécia



A "realidade" mediatizada e a forma como os media constroem a "realidade" pode funcionar como uma das maiores condicionantes das democracias contemporâneas.

O grande poder que têm os media nas sociedades actuais, pode levá-los a condicionar (condicionam de certeza) quer a "opinião pública" quer a "opinião publicada".

Um dos mecanismos mais poderosos de enviezamento da "realidade" social pelos media, consiste na capacidade que os mesmos têm de "esconder a realidade" "mostrando outra realidade".

No dia em que ocorreu o Fórum das Esquerdas, o canal 1 da RTP, abriu a sua emissão com a queda de neve na Serra da Estrela (facto importantíssimo da realidade nacional) e só passados alguns minutos avançou para o que se passou no Forum das Esquerdas. Este Forum foi notícia de abertura na SIC e na TVI. Critérios diferentes vá-se lá saber porquê.

Mas é da forma como foram notíciados os conflitos na Grécia que vos quero falar.

As imagens não falam por si e entregues a si próprias, sem um mínimo de contextualização, elas arriscam-se a "dizer" o contrário do que verdadeiramente significam.

Quem tenha visto o jornalista Paulo Dentinho a fazer a reportagem na Grécia, ficou com a ideia da culpa dos jovens "anarquistas", destruidores da ordem pública, violentos por "natureza", agredindo as polícias, devastando lojas e empresas, passando a ideia de uma juventude "violenta" mal formada a quem a ordem social não pode tolerar.

Nada desta cobertura televisiva é diferente da cobertura dos movimentos anti-globalização, onde aparecem as imagens dos manifestantes a tudo destruir (mesmo quando a maior parte dos manifestantes contestam de forma pacifica). A ideia que passa nas televisões é que de um lado temos os "bons", os defensores da ordem pública, os polícias; e do outro temos os "maus", os jovens arruaceiros e "anarquistas" que contestam por tudo e por nada.

As causas da violência, essas são profundas e seriam necessárias de ser contextualizadas. Coisa que raramente os jornalistas do imediatismo de hoje faz e muito menos o jornalismo televisivo. Uma geração a quem tudo foi prometido, elevando as suas aspirações sociais a um nível nunca visto, vê agora a realidade do dia a dia desmentir brutalmente a capacidade de as realizar e o seu destino social futuro "bloqueado". A geração 500 ou 700 euros, "precária", "flexivel", "polivalente", sem futuro algum e incapaz de estabelecer quaisquer que seja o projecto de vida, explode ao mínimo transbordar de copo de água, numa ordem social cada vez menos democrática e cada vez mais autoritária.

A corrupção e a percepção da ilegitimidade das injustiças sociais a uma escala crescente, juntamente com o descrédito nos governantes e partidos políticos, é uma bomba relógio, pronta a explodir a qualquer momento. Já tinha sido assim nos suburbios de França onde as pseudoexplicações centradas no "problema dos imigrantes" escondeu por algum tempo as causas económicas e sociais na origem do fenómeno, nos bairros rotulados de "difíceis" onde o desemprego chega a rondar os 40% na população jovem.

Um novo contrato social é preciso. Uma nova forma de fazer jornalismo também. Nova gente nos partidos políticos idem idem aspas aspas. Nada de bom se augura nos tempos próximos. Espero estar redondamente enganado.


4 comentários:

  1. Paris,Atenas e os mais que a seguir virão são sinais de um profundo mal estar social.
    O sistema capitalista revela-se na sua nudez: é insustentável nos planos económico , ambiental e social.Impossível não reformá-lo sem que voltemos a cair no caos da guerra e dos vários totalitarismos, hoje possíveis.
    Os meios de comunicação social têm donos e os discursos que produzem , genericamente, as excepções são isso mesmo,não passam de propaganda para amedrontar as pessoas e gerar consentimento en torno do status quo.
    Paris e Atenas gritam alto o desespero de milhões mas alguém ousará dizer para onde se caminha?
    A luta nas ruas não pode ser um fim em si mesmo.

    Vítor Aleixo

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  2. João; plenamente concordante com este teu tópico... alertar para o descontentamento de largas camadas sociais que não encontram lugar nesta estrutura social desumana!
    Desejo que este debate não seja, como no meu caso, desviado para a discussão de questões sectoriais e se fale aqui daquilo que, também, se sente por cá!

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  3. Caro João Martins: Neste preciso momento a TSF no seu fórum diário, está a debater com os ouvintes futebol, faço este reparo na sequência de como os média nos tentam "distrair" de outros problemas muito mais importantes, para já não falar de quando as TVS abrem os noticiários com futebóis, chegando por vezes aos 20 minutos. Aqui para os meus lados, o barril de pólvora está prestes a explodir, um bairro pacato, (que até tem esquadra de Polícia), esta semana houve 3 assaltos, e caso "curioso", não foram nem a bombas de gasolina, nem a correios,bancos ou similares... foram a duas mercearias e um café!!!...
    Dá que pensar, não dá? Estes assaltos nada diz aos média, mas quando o barril explodir, os mesmos vão ser acusados de vândalos, anarquistas, e o que mais se verá. PS: Mudei para a Antena um e estão a falar do mesmo. É o País em que vivemos.

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  4. A crise de valores contaminou toda comunicação social ...!

    Sobretudo onde a crise economica é mais preocupante ...!

    O que não ajuda nada e leva a atitudes desesperadas e de violência colectiva ...!

    Um abraço da M&M & Cª!

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