O chanceler alemão Bismarck dizia que a política era a arte do possível. Infelizmente, no entanto, em Portugal estamos a assistir à arte do impossível. Foi assim que o Presidente da República nos apresentou o seu roteiro para o país. Conta reduzir a dívida de 126% para 60% do PIB até 2035. Para isso o país só precisa, imagine-se, de ter em todos esses anos um crescimento anual nominal do produto de 4% e uma taxa de juro implícita na dívida pública também de 4%, em ordem a ter um excedente orçamental primário anual de 3% do PIB. Se alguém acredita que Portugal vai alguma vez ter esses resultados, seguramente também acredita no Pai Natal.
Perante isto, está à vista que a saída da troika será um mero abandono do país à sua sorte, com a promessa de novos confiscos e impostos, que deixarão os portugueses exangues. Mas, apesar de as pessoas estarem cada vez pior, continuarão a prometer-nos que o país ficará melhor em 2035, admitindo que nessa data restará algum português para ver. Haverá, no entanto, uma pausa até às eleições, em que os políticos procurarão entreter-nos com assuntos absolutamente irrelevantes. Paulo Rangel já se esmerou recorrendo ao entretenimento político versão Walt Disney: o programa político da coligação é apresentado em 101 tweets para recordar os 101 dálmatas. Se descontarmos o ridículo, a iniciativa faz todo o sentido. Lembrará aos portugueses a vida de cão que lhes estão a prometer.
Luís Menezes Leitão
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
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