A minha Lista de blogues

sexta-feira, janeiro 22, 2010

A Ciência da Poda

"As ima­gens são do Largo 1º de Dezem­bro, em Sin­tra, e foram gen­til­mente envi­a­das por Pedro Maci­eira, autor do blo­gue Rio das Maçãs. Retra­tam o abate de uma tília com deze­nas de anos (...) e a rola­gem de outras árvo­res no mesmo local. O Pedro Maci­eira não se limi­tou a tirar as foto­gra­fias e pro­cu­rou, junto de quem pro­ce­deu a estas acções, saber das razões para tal acto. Para o abate da tília, o argu­mento do cos­tume, ou seja, a “árvore estava doente”. Entre aspas por­que, em qual­quer local civi­li­zado, essa doença seria devi­da­mente jus­ti­fi­cada por um rela­tó­rio assi­nado por um arbo­ri­cul­tor de com­pe­tên­cia reco­nhe­cida. Rela­tó­rio esse que, em caso de men­ci­o­nar a impe­ri­osa neces­si­dade de aba­ter a árvore, seria pre­ciso na iden­ti­fi­ca­ção dos moti­vos para tal, de forma a que não sub­sis­tis­sem dúvi­das sobre as inten­ções da autar­quia em causa. Por último, mas não menos impor­tante, num local civi­li­zado o abate de uma árvore com deze­nas de anos deve­ria ser sem­pre pre­ce­dido por um escla­re­ci­mento cabal à popu­la­ção. Não se pode con­ti­nuar a fazer desa­pa­re­cer, de um dia para o outro, exem­pla­res que fize­ram parte da vida das pes­soas durante deze­nas de anos, e espe­rar que as pes­soas acre­di­tem na bon­dade dos man­dan­tes de tais actos. É ver­dade, não o nego, que, devido ao des­leixo a que é votada a ges­tão do arvo­redo público no nosso país, exis­tem mui­tas árvo­res que deve­riam ser aba­ti­das em nome da segu­rança pública. Mas essa aná­lise tem que ser feita, em cada caso, de forma tec­ni­ca­mente irre­pre­en­sí­vel, por quem é espe­ci­a­lista na área, para que não sub­sis­tam dúvi­das sobre quais os reais moti­vos que pre­si­dem à deci­são de aba­ter uma árvore.
Por último, a jus­ti­fi­ca­ção para a rola­gem das demais árvo­res visí­veis nas foto­gra­fias foi ainda mais sur­real. À per­gunta do Pedro Maci­eira sobre o porquê da neces­si­dade de uma poda radi­cal, a res­posta foi que “era assim que se fazia antigamente”. Não importa se tais prá­ti­cas ances­trais de rolar as árvo­res estão cer­tas ou erra­das, se são, ou não, bené­fi­cas para as árvo­res; se con­tri­buem, ou não, para a sus­ten­ta­bi­li­dade das árvo­res e, con­se­quen­te­mente, para a segu­rança das pes­soas nas cida­des. A rola­gem das árvo­res perpetua-se por­que é uma tra­di­ção, em Sin­tra como no resto do país. Pouca importa a esta gente que seja uma prá­tica errada, que dani­fica as árvo­res e aumenta o poten­cial de ocor­re­rem acidentes. Che­ga­mos pois a esta triste con­clu­são, que a tra­di­ção se sobre­põe à raci­o­na­li­dade. Para cúmulo, com o argu­mento que se está a pro­te­ger uma espé­cie de tra­di­ção ances­tral dos por­tu­gue­ses: des­truir as árvores! Pois é, meus amigos…Ainda por cima, somos uns ingra­tos por não agra­de­cer­mos às autar­quias por­tu­gue­sas o sal­va­guar­dar das nos­sas tra­di­ções culturais."


Pedro Nuno Teixeira Santos in http://www.arvoresdeportugal.net/2010/01/pesadelo-em-sintra/

Sem comentários:

Enviar um comentário