"As imagens são do Largo 1º de Dezembro, em Sintra, e foram gentilmente enviadas por Pedro Macieira, autor do blogue Rio das Maçãs. Retratam o abate de uma tília com dezenas de anos (...) e a rolagem de outras árvores no mesmo local. O Pedro Macieira não se limitou a tirar as fotografias e procurou, junto de quem procedeu a estas acções, saber das razões para tal acto. Para o abate da tília, o argumento do costume, ou seja, a “árvore estava doente”. Entre aspas porque, em qualquer local civilizado, essa doença seria devidamente justificada por um relatório assinado por um arboricultor de competência reconhecida. Relatório esse que, em caso de mencionar a imperiosa necessidade de abater a árvore, seria preciso na identificação dos motivos para tal, de forma a que não subsistissem dúvidas sobre as intenções da autarquia em causa. Por último, mas não menos importante, num local civilizado o abate de uma árvore com dezenas de anos deveria ser sempre precedido por um esclarecimento cabal à população. Não se pode continuar a fazer desaparecer, de um dia para o outro, exemplares que fizeram parte da vida das pessoas durante dezenas de anos, e esperar que as pessoas acreditem na bondade dos mandantes de tais actos. É verdade, não o nego, que, devido ao desleixo a que é votada a gestão do arvoredo público no nosso país, existem muitas árvores que deveriam ser abatidas em nome da segurança pública. Mas essa análise tem que ser feita, em cada caso, de forma tecnicamente irrepreensível, por quem é especialista na área, para que não subsistam dúvidas sobre quais os reais motivos que presidem à decisão de abater uma árvore.
Por último, a justificação para a rolagem das demais árvores visíveis nas fotografias foi ainda mais surreal. À pergunta do Pedro Macieira sobre o porquê da necessidade de uma poda radical, a resposta foi que “era assim que se fazia antigamente”. Não importa se tais práticas ancestrais de rolar as árvores estão certas ou erradas, se são, ou não, benéficas para as árvores; se contribuem, ou não, para a sustentabilidade das árvores e, consequentemente, para a segurança das pessoas nas cidades. A rolagem das árvores perpetua-se porque é uma tradição, em Sintra como no resto do país. Pouca importa a esta gente que seja uma prática errada, que danifica as árvores e aumenta o potencial de ocorrerem acidentes. Chegamos pois a esta triste conclusão, que a tradição se sobrepõe à racionalidade. Para cúmulo, com o argumento que se está a proteger uma espécie de tradição ancestral dos portugueses: destruir as árvores! Pois é, meus amigos…Ainda por cima, somos uns ingratos por não agradecermos às autarquias portuguesas o salvaguardar das nossas tradições culturais."
Pedro Nuno Teixeira Santos in http://www.arvoresdeportugal.net/2010/01/pesadelo-em-sintra/
Sem comentários:
Enviar um comentário