É fantástico que aqueles que em nome do Deus mercado, conjuntamente com o jogo da batota financeira, enterraram a economia mundial, estejam agora com pompa e circunstância a ditar regras de imposição e de ditadura económica aos outros, esses, que na hora da aflição económico-financeira foram espremidos até ao tutano em nome da salvação dos grandes senhores da finança mundial. As receitas ideológicas que levaram a uma das maiores crises da história do capitalismo estão de volta em nome da salvação mundial. Apelos para a redução do Estado Social, com diminuição dos subsídios de desemprego, congelamento de salários da função pública, redução nos apoios à protecção social na velhice e na doença e cortes em tudo o que penaliza as populações de menores recursos sociais, são o mote encontrado para evitar o colapso dos Estados Nacionais. Algumas almas conservadoramente iluminadas queixam-se que os portugueses vivem "acima das suas possibilidades" e esse seria o principal drama nacional. Penso que se devem estar a referir ao nível salarial dos portugueses, ou talvez, à "qualidade de vida" dos dois milhões de pobres que não têm vergonha dos luxos das suas boas vidas, ou talvez ainda, aquela larga franja da população portuguesa que vive hoje em crescente precarização e vulnerabilidade social. A amnésia estrutural tudo permite. O discurso dos neoconservadores entra nas mentes e nos corpos e faz das vítimas culpados e dos culpados os heróis da salvação nacional. FMI, Banco Mundial, OCDE, Banco Central Europeu e Agências de Rating nada tiveram a ver com a crise. A crise foi mesmo provocada pelos pobrezinhos e paga com o dinheiro de todos nós. Depois dos pobres pagarem a crise, os ricos procuram a irradicação dos pobres da face da terra. Entretanto, indiferente a tudo isto a banca continua no seu caminho de lucros astronómicos. E o governo de Sócrates faz acordos orçamentais com o CDS/PP. Em nome da salvação nacional, pois claro.
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