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quarta-feira, dezembro 10, 2014

Agora, Porque O Costa Não É Dono Do Nosso Tempo

Não consigo perceber gente que faz cenários para dois anos ou quatro anos e que explica que, neste momento, não é tempo de construir alternativas, mas de esperar: "É preciso aguardar", dizem- -nos. Como se a vida, na sua urgência, não os desmentisse em cada momento.
Explicam-nos que não há condições subjectivas para fazer uma alternativa, estaríamos no tempo de António Costa: aqueles que se opõem ao pacto orçamental; ao mando de Bruxelas e Berlim; ao empobrecimento das pessoas para sustentar o euro; ao aumento das desigualdades sociais para enriquecer os milionários; à expulsão dos jovens e à liquidação cruel dos reformados; a gente que não acredita em 40 anos de bloco central alternado, está condenada à inacção - porque este é, repetem--nos, o tempo de António Costa.
Este discurso esconde a impotência dos pequenos poderes e dos grupos que acham normal fabricar derrotas. Não se consegue entender: se a maioria da sociedade, e se os partidos à esquerda do PS e muitos eleitores socialistas e milhões de pessoas que não se revêem nem na esquerda nem na direita, concordam que este caminho para o precipício tem de ser parado, por que razão não o fazem? O que esperam? Que isto fique ainda pior?
Como declarou o filósofo esloveno Slavoj Zizek em entrevista ao Vítor Belanciano, no "Público": "Os esquerdistas são os melhores teóricos do seu próprio falhanço. O que admiro no Syriza ou no Podemos é a tarefa quase heróica de quererem seriamente alcançar o poder", isto tudo numa conversa sabiamente intitulada: "Se esperamos o momento certo para uma revolução, ela nunca acontecerá", que resume bem aquilo que acontece nos dias de hoje.
Aquilo que se faz gera em si as condições da sua possibilidade. As condições sociais não bastam, apesar de existirem; para alterar uma realidade, é necessário dar-lhes um sentido. Produzir com as pessoas uma leitura que conduza a um rumo colectivo. Em vez de aceitar uma situação que significa uma total destruição social: a precariedade generalizada, o empobrecimento de todo um povo, o fim dos serviços públicos, a implosão de todos os sectores de emprego com direitos e a liquidação dos sindicatos. É necessário actuar - não para resistir, mas para vencer. Pode ser um desafio impossível, mas a derrota é certa se ficarmos, como agora, parados.
Existem condições para aproveitar uma hegemonia social e transformá-la em mudança política. A maioria dos portugueses é contra a existência de uma casta política e económica que vive da corrupção, não está de acordo com uma política de austeridade que liquida a vida e a economia e só serve os especuladores, e pretende ter voz activa no seu futuro. Nestes três eixos (corrupção, economia e democracia) há uma posição maioritária das pessoas para mudar. É só preciso dar-lhe uma voz credível.
Garantem-nos que temos de ser pacientes. Vivemos acima das nossas possibilidades, dizem-nos. É preciso reformar a economia, explicam-nos. O mundo muda a uma velocidade vertiginosa, e é necessário, sob perigo de ruína, adaptarmo-nos a essa mudança inevitável, ou não estar mais neste mundo, repetem-nos.
Às vezes devemos preferir a dor à sonolência. Escolher a acção em vez da passividade. Fazer um acto irreversível. É melhor, simplesmente, não ser como nos querem: quietinhos.
 
Por Nuno Ramos de Almeida

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