O Lehman Brothers explodiu faz agora seis anos. Mais de 2000 dias depois da crise financeira ter rebentado, a direita europeia tem dois problemas: primeiro, a sua solução para acabar com a crise não funciona; segundo, a todo o custo não o quer reconhecer. Infelizmente, a esquerda europeia tem uma variação dos dois problemas da direita: a solução para a crise que anuncia quando está na oposição desaparece miraculosamente quando chega ao governo por incapacidades próprias e falta de apoios europeus. A anexação do pensamento político de toda a Europa pela doutrina Merkel conduziu a resultados devastadores do ponto de vista do crescimento e do emprego. E o que faz a Europa, em sequência de mais uma rodada de números deprimentes, como os divulgados na semana passada? Reage em coro da mesma maneira automática, inútil e quase infantil como o tem feito nos últimos anos: marca uma nova cimeira sobre crescimento e emprego. Nenhuma das cimeiras anteriores deixou rasto e, dado o estado da arte, o caixote do lixo é o lugar mais provável onde se colocará a mais recente convocatória. Infelizmente ninguém acorda (tirando Draghi sempre que é Verão, mas não chega). Hollande, a esperança da social-democracia europeia, vive em modo suicida e demite os membros do seu gabinete que se manifestam contra a austeridade. É demasiado tempo na zombieland, muito tempo perdido, muito emprego e vidas destruídas em nome de uma religião e moral desconexa da realidade. Na Europa, a economia deixou de ser uma ciência (recusa veementemente as soluções que podem chegar aos resultados que os protagonistas afirmam querer) e transformou-se numa religião: imagine-se que o tratamento que era dado a um doente com cancro era exactamente aquele que lhe faria piorar o seu estado clínico? A Europa funciona em termos económicos como aquelas pessoas que por razões religiosas se recusam a receber tratamentos médico ou o proíbem aos seus familiares. Em medicina, esse comportamento é incompreensível – em economia é aceite pela maioria dos Estados europeus. O tempo é dos zombies. Aqui há dias, no seu blogue, Paul Krugman atirava para o ar hipóteses de explicação para o facto de ser possível fazer uma política de estímulos nos Estados Unidos e na Europa não. A ecologia intelectual nos Estados Unidos é mais flexível, a “direita louca” americana serve de vacina. Mas Krugman afirma não conseguir perceber a “infelicidade” da esquerda europeia. É, sem dúvida, material para doutoramento em ciências políticas.
Por Ana Sá Lopes
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