Relatos de vida
1. Dia 15 de Setembro pela manhã. Eu e ela encontramo-nos para distribuir cartazes da manifestação contra a Troika em Loulé. Pergunto-lhe o que faz. Diz-me que está desempregada. Deu aulas numa Faculdade que também já foi a minha. Disseram-lhe que tinha feito um excelente trabalho e que gostaram muito dela. Só não ficava porque não havia dinheiro. É a justificação que agora legitima todas as decisões em todo o lado. De algum modo conforta que tem nas mãos a tomada de decisão. Gostamos de ti mas não dá. Pensei com os meus botões que qualquer dia sou eu.
2. Tarde de dia 16 de Setembro, depois da manifestação de 15. Ele vem falar comigo para me dizer que está do nosso lado. Que as nossas reindivicações são justas. Que está arrependido de ter votado PSD. Pergunto-lhe o que faz. Diz-me que está há oito anos desempregado. Que era bancário mas que foi despedido por um mau chefe. Está cheio de medo. Aterrado. Vive com os pais que percebe estarem a ficar velhos e que vivem da reforma. Teme cair nas ruas na maior das misérias se os seus pais morrerem. Os seus pais foram agora afectados pelos cortes da Troika. Fico sem saber o que dizer. Pago-lhe um café. Tenho uma carga de trabalho enorme à minha espera. É Domingo. Vou para casa estudar. Pensei com os meus botões que não quero ser como o Relvas. Um dia, não muito longe, posso ser eu. Um dia, não muito longe, podes ser tu.
Um texto que vale a pena ler:
ResponderEliminarhttp://expresso.sapo.pt/o-medo=f753037