A Grécia está falida. A política da troika só agravou a economia e tornou os gregos mais pobres. Daqui a poucas semanas será obrigada a sair do euro. No momento em que o fizer, haverá uma reacção em cadeia: os bancos centrais que emprestaram dinheiro a Atenas estarão tecnicamente falidos. Nada impedirá os Estados nacionais de os recapitalizar a não ser a crescente incapacidade económica e financeira dos países que participam na União Europeia e são accionistas do Banco Central Europeu. Os países do euro terão cada vez mais dificuldades em financiar-se. Haverá uma corrida para trocar euros por outras divisas. Ninguém acreditará que o euro sobreviva, nem os mercados nem as pessoas de carne e osso. Apesar da sua estratégia subserviente em relação à política e a qualquer esgar da senhora Merkel, o governo português será corrido da moeda única. Todos os sacrifícios feitos apenas serviram para tornar a situação pior. Em pouco tempo, a riqueza nacional estará sujeita à desvalorização crescente do novo escudo. Os salários reais dos portugueses vão descer abruptamente para menos de metade. Um pouco por toda a Europa, o modelo social europeu implodirá. As tensões políticas entre os países do Velho Continente vão explodir. A União Europeia entrará em ruptura e será pasto de populismos. Os governos encontrarão nos povos do lado os bodes expiatórios da sua incompetência e a justificação das políticas neoliberais desastrosas que todos praticaram com a cegueira dos convertidos.
Este cenário, que há poucos anos seria apenas ficção para filmes, tem hoje uma probabilidade crescente de se verificar. Retirei parte dele do livro “Fim do Euro em Portugal?”, do economista Pedro Braz Teixeira, uma das mais interessantes obras publicadas sobre a crise que vivemos. A continuarem as políticas que nos trouxeram até aqui, as próximas gerações vão ter uma vida muito mais pobre. A grande maioria vai estar desempregada, muitos apenas conseguirão andar de emprego em emprego precário durante a sua juventude. Ninguém terá direito a apoios sociais ou subsídios. O ensino superior e o acesso à saúde serão realidades para muito poucos. Os mais novos serão forçados a emigrar, os mais velhos compelidos a morrer cedo. Como diria o governo, “ao menos não ficarão na sua zona de conforto”.
As conclusões políticas são, obviamente, minhas. Pedro Braz Teixeira aconselha vivamente, para começo de conversa, que todos os portugueses acumulem latas de sardinha na despensa e dinheiro no colchão, para sobreviverem, pelo menos, durante o primeiro mês de confusão.
A vantagem dos livros e dos cenários é que nos fazem pensar. Ao contrário de uma pedra ou de Vítor Gaspar, o comum dos humanos, quando cai de um precipício, consegue perceber que, lá no fundo, vai esborrachar-se. É preciso recusar esta deriva vertiginosa que nos garantem ser a única solução e conseguir mudar de rumo. Não temos nada a perder. A manter este caminho, o resultado será certamente desastroso. O primeiro passo para evitar a catástrofe é acordar e perceber que depende de cada um de nós recusar esta política. Se muitos o fizermos em Portugal e na Europa, outro destino será traçado. Desta vez, será por nós e não por imposição dos mercados, das agências de rating e daqueles que enriquecem com a especulação e a agiotagem. Estar quieto é aceitar ter o final que nos traçaram. Por isso, participarei na manifestação contra a troika no próximo dia 15 de Setembro. O meu caro leitor, se discorda de mim, pode sempre ir ao Pingo Doce comprar umas latas de sardinhas – cheira- -me que desta vez não terão 50% de desconto. Como dizia o cantor: “Mais vale ser um cão raivoso/que uma sardinha/metida, entalada na lata/educadinha/pronta a ser comida, engolida, digerida/e cagadinha”. É, pelo menos, uma questão de higiene.
Por Nuno Ramos de Almeida - Editor executivo
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