É um facto social adquirido e que creio que reúne consenso que o desporto pode ser um fantástico mecanismo de integração social dos jovens.
Digo pode ser, porque a forma como pais, educadores, treinadores e directores desportivos encara o mesmo na prática dos jovens, pode fazer toda a diferença para que a pratica desportiva possa contribuir para a integração dos jovens na sociedade ou pelo contrário produza frustrações na juventude, que por vezes são irreparáveis e vão marcar toda a sua vida futura.
O futebol juvenil dos clubes de loulé é disto um bom exemplo. Vejamos então as duas faces da moeda.
Competencias de desenvolvimento social e pessoal que a prática do futebol jovem pode proporcionar:
- Aprender a trabalhar em equipa. Numa sociedade cada vez mais complexa, as competências de cooperação com os outros, de aprendizagem partilhada e de relação grupal são fundamentais e a educação escolar é muito limitada no desenvolvimento deste tipo de competências.
- Aprender a competir saudavelmente e aprender a ganhar e a perder jogos.
Também a vida social e profissional é feita de "derrotas" e "vitórias" e aprender que a vida é feita de coisas boas e outras menos boas é uma aprendizagem fundamental.
- Ganhar capacidade de resistencia à frustração. Os psicólogos falam de resiliência. E o aprender a perder, é hoje uma competência fundamental numa sociedade em que o capitalismo predador e selvagem pode tornar frágeis as identidades pessoais e sociais. O drama do desemprego e a competição selvagem nas empresas é disto um bom exemplo.
- Mas o futebol pode contribuir ainda para a integração na sociedade, produzindo redes sociais e de amizades, assim como o sentimento de pertença ao grupo e portanto de integração na comunidade.
- Competências de controlo de si, dominio do corpo, da relação com o espaço e de gestão do tempo são também adquiridas com o jogo e acompanham-nos pela vida fora e que preciosas podem ser.
- Aprender a escutar, a aceitar as decisões dos líderes, a ser disciplinado, a gerir o imprevisto, a expôr-se públicamente e a ser apreciado socialmente, assim como aprender a ser criticado e a saber aceitar a crítica pública.
Enfim, estas são apenas algumas das competências sociais que a prática do futebol produz e muitas outras poderia enumerar a partir da minha experiência como praticante de futebol federado, com quase vinte anos de prática da modalidade.
Mas a face negra da moeda também pode estar presente e vou destacar aqui os aspectos principais que têm a ver com a PRODUÇÃO DE FRUSTRAÇÕES E DE IDENTIDADES PESSOAIS FRUSTRADAS.
É muito frequente, assisti a isto inumeras vezes, por parte de pais, treinadores de futebol juvenil e directores, pôr-se a competição desportiva à frente da formação pessoal e social dos jovens.
Não digo que a competição não seja importante, o que digo, é que esta não se poderá impor nunca aos objectivos de formação pessoal e social e à função de integração dos jovens na sociedade.
Conheci muitos pais que queriam à força que os filhos fossem profissionais de futebol.
O sonho de mobilidade social ascendente, através de uma carreira artística e futebolistica está muito presente, sobretudo nas classes sociais mais pobres.
São estes que são sobretudo penalizados por expectativas irrealistas criadas a partir dos grupos de referência desportiva e não dos seus grupos de pertença.
"O meu filho ainda há-de jogar no Benfica".
Infelizmente treinadores e directores vão muitas vezes na mesma "onda" e contribuem para a elevação de expectativas quase sempre irrealistas pois criam os seus "craques" e as suas "vedetas" locais às vezes logo desde tenra idade.
Tudo isto não seria muito grave se a escola não ficásse para segundo plano, se a baixa escolaridade não se traduzisse em emprego desqualificado ou mesmo se a estrutura de oportunidades desportivas da região permitisse o acesso a tão desejadas carreiras.
Infelizmente a realidade é perversa e em cada 1000 futebolistas jovens talvez 4 ou 5 façam uma carreira futebolistica mediana.
O que quer dizer que para muitos outros, são sonhos destruidos que foram fabricados que ficam.
Alguns deles têm mesmo passagens e caídas na droga e em vidas de toxicodependencia e alguns ainda, ficam com a sensação de terem sido enganados por tais produtores de falsas expectativas.
"Se soubesse o que sei hoje, não tinha abandonado a escola tão cedo".
Fica o alerta para os pais, educadores, treinadores do futebol jovem e directores desportivos.
Para que o futebol juvenil de Loulé seja um extraordinário instrumento de integração social e para que os jovens não se divirtam a matar os sem abrigo como desporto, tal como aconteceu esta semana em Portugal.
Um abraços a todos e bom Carnaval.
João Martins
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