O porta-voz do Governo grego, Simos Kedíkoglu, fez uma boa leitura dos acontecimentos da madrugada de ontem em Atenas. Uma “bala simbólica”, disse, foi disparada contra o primeiro-ministro.
O porta-voz do Governo grego, Simos Kedíkoglu, fez uma boa leitura dos acontecimentos da madrugada de ontem em Atenas. Uma “bala simbólica”, disse, foi disparada contra o primeiro-ministro.
Eram duas e meia da manhã em Atenas quando uma moto com dois homens passou junto à sede da Nova Democracia, o partido que domina a coligação no Governo, dirigido por Antonis Samaras. Um dos homens disparou uma rajada de Kalashnikov contra o prédio – uma bala entrou no gabinete destinado a Samaras.
“Isto não tem precedentes. Mas não nos deixaremos amedrontar, o Governo fará o que tiver que fazer para proteger a democracia”, disse Kedíkoglu, citado pela AFP.
A vaga que começou na sexta-feira pode significar uma mudança de rumo na forma dos gregos protestarem. Entre sexta à noite e a segunda-feira de manhã, os alvos foram sobretudo ligados ao poder. Sedes de bairro do Partido Socialista (PASOK) foram vandalizadas, assim como balcões bancários. A casa de um irmão do porta-voz Simos Kedíkoglu ficou sem vidros e na madrugada de sexta-feira foram lançadas bombas artesanais contra as casas de cinco jornalistas, sendo estes atentados reivindicados por um grupo chamado Militantes da Minoria que, em informações à imprensa, explicou ter atacado jornalistas que considera “representantes oficiais do sistema”.
Na madrugada de ontem, a empresa pública de electricidade, a DEI, também foi atacada — no dia 1 de Janeiro a electricidade subiu 15% (o aumento em 2012 fora de 9,2%).
A polícia científica procurava provas que levassem à identificação dos suspeitos que dispararam contra a sede da Nova Democracia. O porta-voz do Governo avançou a uma televisão grega, citada pela BBC, que a autoria dos ataques concertados será de um grupo “anarquista de esquerda”, mas a informação não foi confirmada oficialmente; a polícia fez apenas saber que a vaga de violência está a ser investigada.
Na sexta-feira, ao apresentar mais um pacote de medidas de austeridade para este país intervencionado pela troika (Fundo Monetário Internacional, União Eurioeia e Banco Central Europeu), Samaras pediu “paciência” aos gregos e, usando uma imagem de optimismo, disse para verem “o copo meio cheio”.
Na madrugada de sábado, o Parlamento aprovou, com os votos da Nova Democracia, PASOK e Esquerda Democrática (a coligação, que junta 163 deputados em 300; o líder do Syriza, na oposição, esteve ontem em Berlim, onde o ministro das Finanças alemão lhe pediu para apoiar a austeridade; Alexis Tsipras recusou), mais um aumento de impostos, a redução dos escalões do IRS de oito para três e a tributação em 42% para rendimentos a partir de 42 mil euros por ano (o que reduz a tributação dos mais ricos; quem ganhava mais de cem mil euros pagava 45%).
Se a vaga de violência direccionada durou um fim-de-semana ou se foi o eclodir de uma nova abordagem à luta contra a austeridade e os políticos – até aqui feita de protestos de rua e confrontos entre manifestantes e polícias –, isso só se perceberá nos próximos dias. Para já, Atenas está em estado de alerta.
Mas numa entrevista ao jornal El País, o jornalista grego Kostas Vaxevanis diz que “o ambiente está a mudar”. “
“A Grécia está no limite e é impossível as coisas continuarem como estão. Não podemos ter metade da população a procurar comida no lixo e a outra metade a não pagar impostos. Sem mudanças, vamos para a guerra civil".
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