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sábado, agosto 25, 2007

Terrorismo Jornalistico ou Jornalismo de Sarjeta: Um marco histórico do movimento ambiental português

Não utilizo aqui a expressão "jornalismo de sarjeta" no sentido que lhe deu à meses atrás o Ministro Augusto Santos Silva, quando atribuiu tão belo atributo à capacidade de produzir notícias que não eram do interesse da acção governativa do qual era parte interessada.

O sentido que lhe atribuo é de jornalismo de fraca qualidade, comprometido com os poderes económicos dominantes, que não consegue observar os factos para além das versões oficiais ou oficiosas fornecidas pelos poderes instituídos e fracamente independente dos poderes de que cada vez mais depende.

Vem isto a proposito do Movimento Verde Eufémia e da sua contestação à produção de milho transgénico, através da invasão da propriedade de um agricultor em Silves, com o objectivo de destruição deste organismo geneticamente modificado.

Não concordo com os métodos utilizados pelos manifestantes, tal como não concordo com a lamentável cobertura jornalistica de alguns jornalistas conceituados da nossa praça, em alguns jornais de elevado prestígio nacional, deste acontecimento.

Que o Ministro da Administração interna apelide o acto de Ecoterrorismo já pouco me espanta.

O que me parece de todo discutível, é que um movimento que se assume como altamente político e de recusa clara de um tipo de alimentação que é tudo menos consensual, nos campos político, económico, científico e na opinião pública dos cidadãos, seja severamente criticado pelos jornais nacionais, dos quais destaco o editorial do Expresso, revelando este, um espírito acrítico fantástico, perante um problema que vai ser central no novo milénio.

Diz-nos o editorial do Expresso:

Título da notícia:

Os Ecofascistas estão entre nós

Excertos da notícia:

"É uma frase feita dizer-se que não se pode dar a liberdade por assegurada. Mas não pode mesmo. O ataque de um pequeno e insignificante grupo de radicais ao mais célebre campo de milho transgénico em Portugal tem o condão de nos lembrar disso mesmo: que o totalitarismo, a intolerância, o desprezo pela propriedade individual e outras marcas próprias dos fascismos de direita e esquerda estão presentes e se mascaram de diversos modos, se movem por diversas causas".

Vejamos agora o que nos diz Gualter Batista, o membro do movimento que aceita falar dos acontecimentos no mesmo Jornal Expresso de 25 de Agosto de 2007:

Pergunta o jornalista do Expresso:
"Concorda que é ilícita a invasão da propriedade privada?"

Responde Gualter Batista:
"Numa primeira análise. Mas foi uma destruição simbólica de uma quantidade miníma de milho. Não foi uma acção violenta, porque não implicou ameaça à integridade física de uma pessoa ou de um ser vivo. Nós tinhamos um objectivo político: repor a ordem democrática, moral e ecológica de um Algarve Livre de Transgénicos. Não foi uma brincadeira de uns miúdos. Estamos a falar de política séria. Somos pessoas politicamente muito activas".

Mas o "jornalismo de sarjeta" não se fica por aqui. Consegue ir mais longe.

Assim, no mesmo editorial podemos ainda ler para nosso espanto:

"Não há qualquer - uma só - prova científica de que o milho transgénico (da qualidade que é autorizado em Portugal e na Europa) seja pernicioso para a saúde. O que está em causa para os radicais é uma questão de fé, um facto em que acreditam sem provas racionais, e não mais que isso".

Para espanto meu na página 3 do mesmo jornal, quando passamos do "jornalismo de sarjeta" para jornalismo de qualidade, podemos ler no artigo informativo dos jornalistas Carla Tomás e Maria Barbosa:

"Os transgénicos são perigosos para a saúde?
Não há provas de que sejam nocivos mas também é impossível afirmar que não há riscos. De um lado da balança pesa a produtividade e um menor recurso a pesticidas. Do outro o receio dos efeitos que terão no organismo humano ou animal - mais de 80% do cereal vai para a ração de aves e gado. Não há registo de doenças provocadas pelo consumo de um transgénico mas para os detractores as consequências só serão visíveis dentro de anos".

Pois é, caros senhores do "jornalismo de sarjeta", não há evidência científica que o consumo de organismos geneticamente modificados seja prejudicial à saúde. O problema é que também não há evidência científica do contrário, ou seja, de que o consumo de OGM não seja prejudicial à saúde e nestas condições deveria prevalecer o Principio da Precaução.

O interesse de um qualquer governo nacional deveria ser o de defesa das suas populações e da saúde dos seus cidadãos. O dos jornalistas deveria ser o da defesa da "verdade" jornalistica.

Neste caso, uns e outros, optaram pela defesa dos grandes interesses económicos, que se movem por detrás da introdução de um tipo de alimentação, que ainda não sabemos verdadeiramente as consequencias que terá sobre a saúde das populações.

Pela defesa de um Algarve Livre de Transgénicos e por uma agricultura biológica de qualidade

Ps: Os reforços a bold são da nossa autoria.

Abraços ecológicos sustentáveis

2 comentários:

  1. Infelizmente o nosso jornalismo está cada vez mais a ser nivelado por baixo. Que se saiba a missão dos jornalistas é transmitir as notícias e não formar juízos de valor ou de moral sobre as pessoas envolvidas. Mas cada vez mais vê-se o contrário.

    Um Abraço e boa semana.

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  2. A propósito dessa acção consultei o google sobre «transgénicos", algo que não sei muito bem que é. Entre outras coisas deparei com uma publicação qualquer de uma qualquer universidade do Porto onde entre outras coisas diziam que estudos indicavam que joaninhas morriam após alimentarem-se com insectos que se tinham alimentado com vegetais transgénicos. Qualquer coisa que induza a morte de joaninhas deve ser tratado pelo princípio da precaução. Digo eu !!

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