Segui os telejornais da RTP desta semana com muito interesse e expectactiva.
"A Administração da RTP deu indicações aos responsáveis pela condução do processo contra o jornalista José Rodrigues dos Santos para que o pivot do Telejornal seja demitido custe o que custar".
Fonte: Público de 15/11/2007
Expectativa, porque seria o máximo da ironia ver o Pivot José Rodrigues dos Santos abrir o jornal da noite, com a notícia do anúncio do despedimento, do pivot José Rodrigues dos Santos.
Afinal é uma não-notícia. Ou pelo menos assim o entendem os directores de programação do telejornal da televisão pública.
Mas porque poderá ser despedido Rodrigues dos Santos?
Por ser um péssimo apresentador de telejornais e as audiências estarem a baixar? Não consta que seja por isso.
Será que é por ser das pessoas em Portugal que mais sabem de jornalismo e comunicação e com obra universitária de referência publicada? Não consta que seja por isso.
Será que alguma coisa do seu passado como jornalista de guerra e a importante experiência como jornalista de investigação estarão a prejudicar o seu desempenho como apresentador do Jornal da Noite? Não consta que seja isso.
Será que a obra literária como romancista, extremamente meritória, construída para além da sua profissão de jornalista, o prejudica no seu estatuto de apresentador da RTP? Não consta que seja isso.
Será que o caso Rosa Veloso e as suas declarações de ingerências externas na designação desta correspondente para Madrid terá sido o motivo principal que levará à sua demissão futura? Segundo consta, não consta que seja isso.
Será o facto de ter referido haver ingerência governativa numa televisão que se pretende pública e independente? Não consta que seja isso.
Será que é por estar a faltar ao incumprimento dos horários estabelecidos, com certeza escrupolosamente e zelozamente estabelecidos e cumpridos, pela administração da RTP? Consta que será por isso mesmo que a Administração da RTP quer despedir Rodrigues dos Santos.
Quantos de nós em Portugal, segundo este critério de incompetência, ainda estariamos no emprego? Que atire a primeira pedra quem em Portugal cumpre os horários...não serão muitas pedras que por aí vão voar.
Este caso demonstra mais uma vez como os administradores preferem a obediência, à discussão livre.
Demonstra como preferem a submissão à liberdade de expressão.
Demonstra como preferem o conformismo à liberdade criativa.
Demonstra como preferem o seguidismo lambe-botas, ao pôr em questão que faz avançar o mundo.
Demonstra como a democracia nas empresas ainda é uma miragem.
Demonstra um "air du temps" que o 25 de Abril não eliminou de todo.
Demonstra que mais que a competência é o culto do chefe que ainda predomina na sociedade portuguesa.
Demonstra que é por estas e por outras que o "atraso" português e a "cauda da europa" é um fenómeno societal difícil de transformar.
Abraços solidários ao professor José Rodrigues dos Santos, porque não é todos os dias que a competência e a simpatia, nos entra pela casa a dentro. Seja na cozinha, no quarto ou na sala de estar.
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