Passados 33 anos da Revolução de Abril de 74 vivemos hoje numa sociedade totalmente diferente e com problemas bem diferentes da sociedade daquela época.
Abril trouxe a pluralidade de ideias e a liberdade de expressão. Contudo, hoje reina também um consenso amorfo sobre a inevitabilidade "natural" da ideologia neoliberal à escala global. O mundo parece ter sentido único, novamente até ao fim da história...o fim agora é que é diferente.
Abril acabou com a polícia política, com o partido único, com a autoridade e a obediência que não se discute, mas instalou a partidocracia...a sociedade civil está fraca e a política ainda é para os "outros".
Abril trouxe consigo os direitos sociais, económicos e políticos, mas hoje com a crise do Estado Providência assistimos a um dos maiores ataques da história por parte do poder económico aos direitos sociais consagrados institucionalmente e que tanto sangue suor e lágrimas custaram ao longo da história. Que o diga Catarina Eufémia.
Abril ajudou a igualizar as oportunidades entre os sexos, mas o mundo da política, da economia das grandes empresas e do poder religioso continua a ser um reduto maioritariamente masculino.
Abril trouxe a consagração dos ideiais de igualdade e de fraternidade mas as desigualdades sociais à escala global e dentro do nosso país crescem como nunca nas últimas décadas.
A "exclusão social" e a precaridade laboral e social institucionalizaram-se como sendo "inevitáveis" e são atribuídas à responsabilidade dos indivíduos que não se mantiveram competentes e portanto tornaram-se "dispensáveis" ou "excedentários". Tivessem sido competentes e "responsáveis" e hoje seriam bons "empresários de si" com forte valor de troca no mercado de trabalho.
O 25 de Abril trouxe a liberdade de imprensa e acabou com a censura institucionalizada formalmente, mas ainda este ano, o Jornal Público foi condenado por divulgar as divídas reais de um clube de futebol ao Estado e alguns directores de jornais afirmaram ser "normal" o primeiro ministro e o seu gabinete telefonarem incessantemente e por vezes "furibundo" para a redacção dos jornais.
Abril instituiu o Estado de Direito mas a Justiça é um labirinto super Kafkiano onde as desigualdades face à justica são gritantes...e vale apena dizê-lo, sem Justiça, não há democracia que resista...
Enfim...por tudo isto e muito mais...recordar Abril é fundamental, pois que a democracia é um processo contínuo em que o adormecimento dos cidadãos é um passo fundamental para o adormecimento da própria democracia.
Pena que a própria comemoração desta data esteja a perder a sua força...mais debates e trocas de ideias sobre o estado da democracia portuguesa era uma boa forma de comemorar este momento histórico da sociedade portuguesa.
Abraços e bom 25 de Abril.
Partilho das suas preocupações e da análiseque faz. Adormecer não podemos de facto e o sonho tem que ser continuado. Viva o 25 de Abril!
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