No rescaldo destas eleições parece-me importante reflectir sobre alguns factos políticos da vida política nacional.
1. Um primeiro aspecto que um Louletano atento aos factos históricos não pode deixar escapar, é que é do concelho de Loulé o homem que vai ficar na História como Primeiro Ministro de Portugal durante 2 mandatos seguidos e agora como Presidente da República, com elevada probabilidade, de segundo a tradição, cumprir dois mandatos eleitorais. A História do Algarve e da Cidade de Loulé é assim central na História de Portugal.
2. Mário Soares (de quem a primeira dama é algarvia)não percebeu que o tempo tem tempos que só o tempo compreende.
O "air du temps",como diriam os franceses, não lhe foi claramente favorável.
Para além de uma sociedade cada vez mais pragmática e vazia ideologicamente, a "velhice" é socialmente considerada uma "morte social".
Soares tem o explendido mérito de tentar recuperar a ideologia (no sentido em que também as ideias condicionam os factos históricos) e de "provar" que ser velho não é sinónimo de inutilidade. Soares só por este facto voltou a escrever história.
3. Manuel Alegre adoptou uma causa que é mais do que legitima, desde que não venha dum homem com perto de trinta anos de vida partidária.
Criou uma ilusão de óptica, buscando legitimidade nos movimentos apartidários, agarrando uma causa que nunca foi sua toda a vida.
Para todos os efeitos é um homem do aparelho do partido socialista.
4. Francisco Louça, o mais esclarecido dos candidatos, aquele que apresenta mais consistência política, sofre do problema ideológico.
Se o seu discurso atinge as classes sociais mais jovens da "nova pequena burguesia" urbana, não passa na velhas classes médias e nas classes médias poucos escolarizadas e mais perto do campo económico da vida social.
O seu partido para já não tem base social de crescimento.
5. Jerónimo, figura muito mais carismática que Carlos Carvalhas consegue criar a ilusão do renascimento do partido comunista. O problema destes lideres carismáticos, é que quando os mesmos saiem do partido, fica um vazio social há sua volta.
Max Weber sociólogo brilhante do século XIX, já assinalava que a substituição de um líder carismático corre o risco de trazer dificuldades aos novos líderes na sua busca de legitimidade.
6. Da candidatura de Garcia Pereira, fica a visibilidade do "défice democrático" existente no nosso país (é uma espécie de democracia quanto baste) e da visibilidade social do excessívo poder dos media nas sociedades de modernidade avançada.
Numa era em que só quem aparece nos media é que tem existência social, um candidato presidencial a quem lhe seja negado o acesso ao mundo mediatico é um candidato inexistente socialmente.
Os media revelaram no seu esplendor como estão subordinados quase à lógica meramente económica.
7. Por fim...e o mais importante para a cidade de Loulé...a crise de legitimidade da democracia representativa sob a forma de "partidocracia".
Reflectindo com os meus botões, não pude deixar de pensar porque designei este espaço de MOVIMENTO APARTIDÁRIO DA CIDADE DE LOULÉ uns dias antes da votação de Alegre...reparem antes...e não depois...
Todos os estudos sociológicos do mundo dito ocidental apontam para os mesmos resultados:
- Crise de legitimidade da democracia representativa.
- Elevadas taxas de abstenção, em algumas eleições chegando aos 50%.
- Elevada desconfiança dos cidadãos face aos políticos.
- Em Portugal, elevada desconfiança face o Estado como pessoa de bem.
- Alheamento da vida política partidária e indiferença face à vida partidária por parte da maioria dos cidadãos.
- Vontade crescente de formas de participação social e política fora da vida partidária.
Por tudo isto Manuel alegre está cheio de razão, o problema é apenas, que a razão está com o homem errado nas causas certas.
É por isso que criei este espaço...para que seja um primeiro passo na reunião dos cidadãos que não tendo voz na participação política da vida da polis, pelo menos que tenham ao nível da reflexão...é também nisto que as novas tecnologias podem contribuir para o regenerar da vida democrática...a democracia tem que caminhar para formas de democracia participativa...sob pena de o deixar de ser um dia...
Abraços para todo o pessoal e um apelo...participem...participem...