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domingo, março 12, 2006

Problemas da cidade de Loulé 11: Anda um espectro pela Europa - o espectro do fundamentalismo neoliberal

Em 1848, numa obra que viria a contribuir para mudar o mundo "O Manifesto do Partido Comunista", Karl Marx começava assim as suas ideias:

"Anda um espectro sobre a Europa - o espectro do Comunismo".

Hoje, passados 158 anos, nunca imaginaria Marx que o espectro que paira sobre todo o mundo é o do fundamentalismo neoliberal.

A que propósito vem esta questão?

Quem tenha estado atento ao que se tem passado em França na última semana, constata facilmente como a vaga fundamentalista neoliberal procura espalhar-se por todo o globo como uma inevitabilidade das "necessidades do mercado".

O governo Francês quer impor à sociedade Francesa e aos jovens em particular uma medida de "combate" ao desemprego que consiste em precarizar a precarização.

É o já famoso CPE - Contrato de Primeiro Emprego - que prevê que os jovens possam ser despedidos, sem quaisquer indemenizações, a qualquer momento, pelos empregadores nos primeiros dois anos de contrato, instaurando uma precarização total da vida laboral e social dos jovens.

Esta é a receita encontrada pelo governo Francês para fazer face à já elevadíssima taxa de desemprego dos jovens em França.

A vaga neoliberal, agora contemporaneamente instaurada subtilmente em "inevitabilidade" da "globalização" e a ideologia do mercado que defende este funcionar por si próprio num ajustamento perfeito, tem contribuido para um ataque aos direitos sociais conquistados pelo movimento operário ao longo da história Ocidental. A ideologia "menos Estado, melhor Estado" tem vindo a galgar terreno em todo o mundo ocidental.

O desemprego juvenil é alarmante e a escola tem funcionado como um "parque de estacionamento" e uma "almofada social" da contestação e da revolta políticas.

Quando as políticas de precarização passam a ter conteúdos explicitos na lei formal a revolta dos jovens adquire contornos significativos.

Não é um Maio de 68 o que assistimos em França, mas não deixa de ser um sintoma de doença grave da organização das sociedades ocidentais.

Agora pergunto eu, se cada vez se é "jovem" até mais tarde, se a transição para a vida "adulta" considerada com a passagem à vida "activa" é feita cada vez mais tarde e em situação mais precária...

Se cada vez mais somos "velhos" para o trabalho cada vez mais cedo, reduzindo o tempo de trabalho a um período cada vez mais curto e precário...

O que vai impedir uma explosão social de uma maioria cada vez mais precarizada, angústiada e com expectativas sociais bloqueadas?

Fica a pergunta, chamando a atenção para o caso da sociedade Francesa onde a revolta dos suburbios é um sinal dos tempos que aí se aproximam.

Boa semana e vigiem os vossos direitos...estes custaram muito sangue, suor e lágrimas para que se concretizassem...

João Martins

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