Salvo Pelos Emigrantes

O contexto social e político é propício a partilhar este estado de alma que me assola há vários anos. Nascido e criado em Loulé, sou hoje um estrangeiro na minha própria terra. Sobretudo desde a intervenção da Troika em Portugal e do vandalismo político que a caracterizou quando organizei e participei em várias formas de manifestação política contra as atrocidades dos poderes nacionais, regionais e locais instalados, quer à direita quer à esquerda. O fato de dizer o que penso na praça pública (e nas redes sociais) custou-me a ostracização e o desprezo do pessoal político do Concelho de Loulé (de todos os partidos, e claro dos seus subsídio-dependentes, dos familiares e membros do partido). Difamado e ostracizado intencionalmente (com objectivos políticos) perdi resmas de amigos da juventude e de infância, uns por pura ignorância (o gajo protesta porquê? Está maluco?), outros por maledicência e inveja, outros por subserviência e cobardia (não vá o diabo tece-las é melhor fazer de conta que não conheço esse gajo). Fui salvo no meu bem-estar em Loulé pelos emigrantes. Vou à pastelaria e sou atendido pela moldava que me atende com a maior competência e simpatia. Vou atestar à bomba de gasolina e sou atendido por um brasileiro com o respeito que qualquer cliente merece. Vou ao Mar Shopping e uma africana atende-me com um sorriso nos lábios. Em qualquer lado que vou sou bem tratado pelos desconhecidos de fora. Sobre os louletanos, com raras excepções, não os tenho em boa conta. Sisudos, conservadores, mesquinhos, invejosos, com a mania das grandezas, meio estupidificados e ignorantes em muitas das situações e com a doença do "ser de boas famílias" (tipicamente socialista), não geram tendencialmente interações que considere gratificantes. Sempre fui reconhecido por tudo o que fiz na minha vida fora de Loulé e globalmente, fora do Algarve. O paroquialismo saloio parece impedir o reconhecimento do outro na sua dignidade e na sua condição plena de ser humano. Uma terra bonita com gente muito pouco bonita. É pena. Fui salvo pelos emigrantes. Obrigado.