Há uma semana fui ver o filme sobre a Hannah Arendt. Estava à espera de gostar e não saí desapontada. Hannah Arendt é uma filósofa e académica admirável e o filme demonstra algo que me é caro em vários sentidos. A coragem de um académico em publicar algo que vai ser polémico ou que pode constituir uma polémica é uma situação que hoje em dia tem vindo a ser diminuída porque chegou-se a este estado em que a polémica para ter dimensão tem que ser escandalosa. Actualmente, parece-me, é difícil existir polémica no mundo académico – e que esta passe para o mundo não-académico – sem um certo sensacionalismo.
Mas não é isso que acontece com Hannah Arendt. Arendt faz o seu trabalho como académica: ela tem um objecto de estudo, ela examina-o, estuda-o, pesquisa, pensa e chega a conclusões. Tenta fazê-lo com a maior honestidade intelectual possível e fá-lo sempre como académica, como alguém que foi treinada desde muito cedo a pensar e a racionar e a ser crítico. A academia é isto. Arendt no filme personifica aquilo que a intelectualidade e a academia têm de melhor. Não põe de lado as suas opiniões pessoais mas elas são suportadas. Não põe de lado a emoção porque é isso é necessário a um trabalho académico, mas utiliza a emoção para amplificar a qualidade da sua escrita e do seu trabalho.
O que acaba por ser impressionante no filme é que Arendt é criticada precisamente por ter feito bem o seu trabalho, por ter sido das primeiras pessoas a pensar criticamente no que tinha acontecido apenas 15 anos antes, por ter feito afinal uma tentativa de compreender o que se tinha passado quando ainda ninguém estava preparado para fazer este exercício. A compreensão é o objectivo de qualquer académico, de qualquer historiador, de qualquer cientista político. Por isso, é-me muito fácil de simpatizar com as palavras dela: “trying to understand is not the same as forgiveness.” Mas esta ideia que parece ser básica é polémica. Não são somente as conclusões a que Arendt chegou que chocam os seus amigos e o público mas também a maneira como ela encarou e abordou o problema: como um académico.
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