A minha Lista de blogues

domingo, setembro 23, 2007

A Crise de Inteligência Política e o Falhanço das Reformas Governativas

Michel Crozier, conhecido sociólogo francês das organizações há muito que nos esclareceu sobre o assunto. A sociedade não muda por decreto.

Por muitas boas leis que se façam e com as melhores intenções políticas, a law in books em Portugal tem uma distância abíssal da law in action.

A realidade social e as práticas sociais não se resolvem somente com boas soluções legislativas. Nenhuma lei por si só impele os cidadãos a mudarem as suas práticas, os seus hábitos e os seus costumes.

Mas as reformas também não se fazem à martelada.

Nenhuma reforma, mudança social ou processo de inovação é possivel de fazer com êxito, sendo aplicada de cima para baixo, ou de fora para dentro, impondo-se aos actores sociais nas organizações, aquilo que os nossos governantes consideram ser bom para as pessoas (e que as mesmas não consideram bom para elas) e o "bom" caminho de "racionalização", de "eficácia" e de "eficiência".
Nem sempre aquilo que aprioristicamente achamos que é bom para os outros é aquilo que os outros consideram bom para eles. Se acham mau não há reforma que resista.

Não se fazem reformas sem as pessoas e muito menos contra as pessoas.

Quando as reformas são feitas à "paulada", como o faz o actual governo socrático, o mais frequente para justificar o insucesso dos resultados das mesmas, é dizer, que o governo não é eficaz a comunicar a sua mensagem e as suas boas decisões (seria um mero problema de eficácia comunicativa), ou então, alegar que são os interesses corporativos que "resistem" às boas mudanças impostas por tão sábia decisão ministerial.

O resultado está à vista.

Os professores altamente descontentes pelas atitudes e discursos da senhora ministra da educação.
Os utentes e os profissionais de saúde a protestar na rua contra a destruição do sistema nacional de saúde.
Os jornalistas num coro de protestos contra a coartação da liberdade de informação.
Os magistrados descontentes com a reforma do processo penal.
Os funcionários públicos culpabilizados pela crise do Estado temem que o seu lugar profissional esteja ameaçado.
Os militares, sobretudo os sargentos reclamam da degradação das suas condições laborais.
As classes médias e as classes populares altamente penalizadas com o "esforço" e o "sacrifício" que lhe é constantemente pedido estão afogadas pelo crescente endividamento e pela baixa do seu nível de vida e sem predisposição para mais sacrifícios.

Tudo se passa como se as reformas pudessem ser feitas sem as pessoas. E ainda menos se percebe quando elas são feitas contra as pessoas.

Se os próprios interessados e aqueles que serão objecto da execução das mudanças não participarem nessas mesmas mudanças que se lhes pede que efectuem, qual o sentido dessas reformas?

Bom resto de fim de semana

Sem comentários:

Enviar um comentário