A Cultura anda pelas ruas da amargura no nosso país.
Os orçamentos para a política cultural do país são praticamente inexistentes.
Os "profissionais" das artes e do espectáculo estão fortemente precarizados e com dificuldades de sobrevivencia.
A Festa da Música vai fechar para obras.
O Ballet da Gulbenkian foi extinto porque tido por muito "gastador".
O Rivoli foi entregue aos privados. Os Ruis Rios das nossas autarquias encaram a cultura como "mero" despesismo e cortam os apoios e financiamentos que a permitiam ainda respirar.
Ora a cultura é "só" a alma de um povo.Não há povo sem cultura.
Seja ela "erudita" ou "popular", de "elite" ou de "massas", a cultura é aquilo que permite a uma sociedade ou uma comunidade construir a sua identidade.
O Estado tem um papel social fundamental no desenvolvimento cultural dos povos e numa época em que a escola é acusada de reproduzir as desigualdades sociais reproduzindo no seu interior sobretudo os valores culturais da cultura burguesa, é ao Estado e às autarquias que cabe um papel de distribuidor cultural sobretudo da cultura dita erudita, que é aquela à qual as classes sociais mais desfavorecidas não têm acesso através da sua socialização familiar.
Se numa boa parte das nossas famílias não há o habitus de ir ao teatro, ao cinema, à ópera, ao museu, aos espectaculos de dança ou de música clássica.
Se na escola as artes são praticamente inexistentes no interior dos curriculos escolares. Quem teria a grande função de igualizar as oportunidades sociais de acesso aos bens culturais mais valiosos?
Só tenho um resposta. O Estado tem que ver as coisas da cultura como um investimento nas pessoas e não como uma mera despesa como é habitual constatarmos.
Numa altura em que o capitalismo predador reduz todas as esferas da vida social ao económico e à busca incessante do lucro (até a religião não escapa à mercadorização da vida social) vale a pena perguntar:
Mozart teria lugar no nosso mundo? Teria existência social? Seria "lucrativo"?
Miguel Ângelo teria pintado a Capela Sistina? Esta maravilha do mundo teria sido criada no nosso tempo?
Gaudi teria tido as dezenas de anos para construir a Sagrada Família?
Vivaldi teria composto as Quatro Estações?
Quem financiaria estes criadores não estando garantido o sucesso inicial em termos "lucrativos"?
Pode a cultura medir-se no número de espectadores e no lucro auferido à maneira de uma fita de Holywood?
Ps: Parabéns à Câmara de Loulé pelo esforço que parece estar a fazer na dinamização do Cine Teatro Louletano.
Sendo claramente insuficiente no desenvolvimento cultural da população louletana é justo dizer que parece haver um esforço para conseguir uma programação cultural interessante com alguma continuidade. A esquerda não fez melhor enquanto foi poder na autarquia.
Abraços culturais e bom fim de semana para todos vós.
João Martins
Que me lembre durante os "reinados " de Joaquim Vairinhos e Aleixo passaram por Loulé os melhores músicos de sempre de Portugal: José Mário Branco ; Fausto; Vitoino; Janita Salomé; Pedro Barroso; Sergio Godinho; Brigada Vítor Jara; Rão Kiao; Julio Pereira; Gaiteiros de Lisboa; Amélia Muge e outros que não recordo agora. A data de 25 de Abril era comemorada em Loulé com músicos de 1ª Qualidade. Vinha gente de todo o Algarve para assistir. Nunca mais isso aconteceu. E era no tempo de pouco dinheiro. A Câmara agora com os impostos das casas e não só tem dinheiro a rodos. Ninguém sabe onde ele é todo gasto. Parece grande coisa o que se faz, mas +é uma pinga de água à vista do que se poderia fazer se lá estivesse gente com sensibilidade. Minha opinião apenas. Um abraço. Longa vida para o seu blogue. Mário
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