Amanhã entramos em 2022. Vou a caminho dos 52 anos. Nasci em ditadura. O meu pai tinha acabado de sair da guerra do Ultramar. Passei pela revolução de Abril aos 4 anos sem dar por ela. Assisti à entrada de Portugal na CEE na minha juventude. O Muro de Berlim caiu tinha eu 19 anos. Nunca fui contagiado pelo vírus comunista apesar de ler lido o Manifesto Comunista quase meia dúzia de vezes. Senti na pele o vendaval neoliberal com origem nos governos da senhora Thatcher e do senhor Reagan. Passei pela adesão ao Euro. Assisti via TV a duas guerras no Iraque. Vi em directo na televisão o segundo avião bater numa das Torres Gémeas. Vi nascer a internet e o facebook e tive um ZX Sepctrum que me levou ao insucesso escolar. Joguei futebol em vários clubes do Algarve e do Alentejo com destaque para as camadas jovens do Louletano e do Farense. Representei a selecção do Algarve sub15 na final no Jamor contra a selecção da Associação de Futebol do Porto (há experiências que nos marcam). Fui baldas na Escola Secundária de Loulé e um aluno de excelência na Escola Primária. Estudei no Ensino Superior na maravilhosa cidade de Évora onde representei as equipas de futebol de 5 e 11 da Universidade de Évora nos campeonatos nacionais universitários. Vi jogar o Chalana, o Carlos Manuel, o Bento, o Futre, o Figo e o Ronaldo. Fui treinado pelo Mário Wilson, pelo Manuel Oliveira, o Joaquim Meirim, o Manuel Cajuda, o João Francisco, o Delfim e o Fanã. Estive na tropa a cumprir serviço militar no quartel de Elvas onde andei aos tiros de metralhadora. Tirei mestrado e doutoramento em Lisboa, a mais bonita cidade de Portugal. Viajei por Madrid, Barcelona, Paris, Veneza, Roma, Bruxelas, Atenas e etc, sem necessidade de certificados digitais. Vivi o auge do Algarve turístico com dias inteiros fantásticos de praia, saídas à noite inesquecíveis e idas à Trigonometria até de manhã (como eu percebo a questão das sociabilidades juvenis nos tempos que correm). Participei em dezenas de manifestações anti-austeridade e organizei algumas delas. Criei com o Joel e a Ana o primeiro movimento de luta contra a exploração de petróleo no Algarve e no país, numa luta incrível que foi ganha. Passei grande parte da minha vida pelo Cavaquistão e organizei manifestações anti-austeridade à porta do Cavaco. Votei Guterres para acabar com a claustrofobia democrática cavaquista e fui um feroz crítico de Sócrates. Assisti ao nascimento e à morte da Geringonça e à descrença das esquerdas comandadas pelo hábil, chico-esperto e incompetente Dr. Costa. Sempre tive a consciência que o voto custou muito sangue, suor e lágrimas, mas há anos que não ponho os pés nas urnas de voto. Estou a assistir aquela que é a maior pandemia da história da humanidade com medo de não sair bem dela ou de perder alguns dos que me são mais queridos. Amanhã é dia de Ano Novo e vão por mim, o mais importante é estar bem de saúde. Depois vem o resto, o dinheiro, o trabalho, o amor e muitos momentos de alegria e felicidade. Façam o favor de ser felizes. Feliz Ano Novo de 2022!
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