Para quem não sabe eu gosto de ler o Correio da Manhã. Há meses, senão anos, que venho a observar as notícias sobre mortes, feridos, agressores, agredidos e todas as formas de violência. Um olhar mais preconceituoso e distraído dirá, é o sensacionalismo e a exploração do sofrimento para vender jornais. Pode ser. Mas é também um indício fortíssimo de um Portugal pré-moderno que tem uma expressão muito mais forte do que aparentemente poderíamos pensar e que se traduz na forma como a pobreza, o desespero e a miséria mais extrema acaba por levar às mais diversas formas de violência social. As notícias do género filho mata o pai, o avô que agride o neto, o vizinho que dá uma facada na ex-mulher e etc, etc, etc, são a expressão de um país que funciona a várias velocidades e que tem sido incapaz de erradicar as formas mais extremas de miséria social. As notícias são de fatos que acontecem no nosso país e estes acontecem quase todos os dias. O caso do afegão que matou duas pessoas em Lisboa é apenas e só, isso. Um homem sem emprego, com três filhos, que perdeu a mulher, que foge de outro país em guerra, que não fala a língua, que está desesperado e que pede ajuda sem ter ninguém que lhe dê suporte. Daí à loucura a fronteira é ténue. O caso põe a nu a distância que vai das boas intenções políticas de acolhimento no papel, à triste realidade. Fazer uma análise de conteúdo ao Correio da Manhã dos últimos anos no que diz respeito a este tipo de notícias era fundamental para melhor conhecer a sociedade portuguesa. Um estudo sociológico por fazer.
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