Regresso amanhã à sala de aula para o ano letivo 2022/2023. Faço este semestre 18 anos a lecionar no Ensino Superior, na Universidade do Algarve. Entrei em 2004 como Assistente Convidado após ter tirado o mestrado na Universidade Nova de Lisboa, já na altura como trabalhador-estudante. Terminei o Doutoramento em Sociologia em pleno período de intervenção da Troika, a trabalhar e a estudar sem qualquer bolsa de estudo ou de investigação. Não demorou muito até chegar a pandemia e agora no atual contexto a guerra e a inflação. A profissão está a sofrer uma erosão estatutária e uma desvalorização salarial acelerada. O sentimento de irreconhecimento profissional é uma evidência na minha subjectividade individual. De alguma maneira sinto que foi um percurso de um homem que se faz a si próprio só possível com o apoio dos parcos recursos familiares. Percebo claramente os aderentes ao movimento "Quiet Quitting" que se demitem silenciosamente do trabalho. Para já recuso-me a aderir à moda, reinventando-me individualmente no meu trajecto profissional e no que faço, em nome de um dever ser fortemente enraizado. Aprendi ao longo destes já longos anos de vida que quando não tens ninguém que te valoriza, tens que ser tu a valorizar-te e a valorizar o teu trabalho. Ainda mais num país onde existe uma cultura de reconhecimento entre os pares das capelas e seitas, muitas delas sob influência partidária, firmemente instaladas. É isso que contínuo a fazer, a recorrer às motivações intrínsecas para o trabalho como se de uma ética protestante à maneira weberiana se tratasse. Gosto do que faço, gosto muito de ensinar e aprender sociologia e enquanto isso durar a vida segue em frente. Não é fácil num sistema universitário onde o capitalismo académico é hegemónico. Mas como cantou de forma genial e inspiradora Jorge Palma, enquanto houver estrada pra andar a gente vai continuar. A ler hoje a Mariana Gaio Alves no Correio da Manhã e no Público sobre o estado do Ensino Superior em Portugal.
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