Costumo dizer aos meus filhos, meio a sério meio a brincar, confesso que mais a sério do que a brincar, que Loulé é a terra com maior concentração de parvos por metro quadrado. É virar uma esquina e estamos a levar com um em cima. Por experiência própria eles vão percebendo o que lhes quero dizer. Desta vez foi o mais velho, na Escola Secundária de Loulé, que desde o primeiro dia de aulas anda a ser objecto de insultos e tentativas de ridicularização por jovens alunos que ele não conhece, pelo facto de ter optado por usar máscara no interior da escola. Como ele me confessou por estes dias, agora vou para a escola para ser insultado. Já teve melhores dias a escola como espaço de liberdade e de democracia. Não vou aqui dizer o que penso de um Governo incapaz e incompetente, quando não criminoso, que deixa a gestão da pandemia entregue a si própria com um excesso de mortalidade histórico por explicar e que pôs fim à pandemia como que por decreto. Uma ex-Ministra da Saúde que deixou o SNS de rastos com a sua incompetência gigantesca. Uma Diretora-Geral de Saúde que manda os portugueses não adoecerem no verão e recomenda que não se coma bacalhau à Brás (só faltou aconselhar um livro de benzeduras), ou ainda, lamento dizê-lo, diretores de escola e um professado meio acrítico que não percebe que a liberdade de uns não usarem máscara colide gravemente com o risco de uma população vulnerabilizada na sua saúde adoecer. Os tempos não são férteis em pensamento critico e predomina claramente a mentalidade de rebanho que não contente com o ajustamento acrítico à conformidade ainda faz um olhar acusatório a quem pensa e age de modo diferente. O aluno da escola secundária que atira publicamente o dedo acusatório a quem ser atreve a usar máscara em espaços fechados em tempos de pandemia, os adeptos do Estoril que cospem numa criança nas bancadas de um campo de futebol ou o abjecto ataque ao carro dos familiares de Sérgio Conceição, são tudo sintomas de um Portugal subdesenvolvido e pré-moderno que nos deveria envergonhar a todos e que teima em permanecer. Vejam a CMTV e mesmo sabendo que é um tipo de jornalismo sensacionalista feito para vender, tentem perceber o que acontece todos os dias em Portugal. Uma modernidade que continua inacabada e um país dual que teima em não desaparecer. Percebe-se o atraso e a estagnação do país nas últimas duas décadas. Muito verniz e pouca competência. Assim é difícil sair da cepa torta.
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