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segunda-feira, junho 17, 2024

Sobre o Capitalismo Académico

 "É que as Universidades têm sido geridas mediante um imperativo hipotético de produtividade, simultaneamente obedecendo a um sistema competitivo cujas regras são estabelecidas por métricas no mínimo dúbias, premiando o poder estabelecido, os docentes que enriquecem o currículo graças ao trabalho precário dos investigadores que, no melhor dos casos, estão contratados a termo incerto. Também neste ponto, Newman se demonstrou indisponível para compactuar com a adaptação do princípio da divisão do trabalho às Universidades, recusando que estas sejam reféns das métricas de eficiência e rapidez, como se de um sistema industrial se tratasse. É que a qualidade científica gerada tem sido quantificada pelo número de artigos científicos publicados, pelo número de patentes submetidas, pelo número de projectos aprovados, pelo número, pelo número, pelo número. Esta vilania é relativamente fácil de desmascarar e, por isso mesmo, é uma vilania ignóbil, preguiçosa, condescendente, ou seja, de muito má qualidade. Tanto que, em março de 2024, a Universidade de Zurique comunicou que iria abandonar o sistema de ranking publicado pela Times Higher Education magazine (detida pela Inflexion Private Equity), por não concordar com o sistema de classificação que contabiliza o número de publicações em número absoluto ao invés de tomar em consideração o seu impacto e qualidade científica. A moribundez da credibilidade académica é um acto suicida programado, uma apoptose. Não há Universidade que não se vanglorie das íntimas ligações ao tecido empresarial, apresentando-se subjugada aos interesses privados, criando-lhes conhecimento barato ou gratuito e formando-lhes os futuros trabalhadores. Os alunos usam as Universidades como mera formalidade, recusando-se (com razão) a compactuar com a sonsa virtude académica e científica. A Universidade, vilã por necessidade, perdeu o norte porque se quis esquecer dos seus objectos fundamentais: o aluno e o conhecimento."

https://observador.pt/opiniao/este-e-sobre-vilania/

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