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terça-feira, julho 11, 2023

Idadismo, Abandono E Desistência Da Vida Humana No Hospital de Faro

No momento em que escrevo o meu pai está gravemente doente, entre a vida e a morte, com uma grave infeção respiratória no Hospital de Faro (CHUA). Duas péssimas notícias, uma ter o meu pai em risco de vida, a segunda, ter ido parar ao Hospital de Faro. Começou ontem com uma crise respiratória grave à hora do almoço, em que com falta de oxigénio, o corpo começou a inchar e a ficar roxo. Chamada a ambulância através do 112, primeiro não havia ambulância, depois de mais duas chamadas, foi alterada a prioridade e já havia ambulância e a única ambulância que afinal havia, veio de Tavira a Loulé. Resultado, numa situação gravíssima a requerer assistência imediata, a ambulância chegou quase 1 hora e meia depois. Os médicos do INEM, altamente competentes chegam a casa, fazem o que têm a fazer e mandam o meu pai para o hospital de Faro. Entrando, neste hospital, como é expectável e é do conhecimento público, tudo pode acontecer. Os médicos que o atenderam disseram que a situação é grave mas que tudo iam fazer para o salvar. Passadas menos de 24 horas, surpresa das surpresas "o vamos fazer tudo para o salvar" foi trocado para uma transferência para uma ala de psiquiatria do Hospital de Faro, um edifício apêndice meio abandonado que fica em frente à prisão, à entrada de faro, para "cuidados de conforto". Aqui começaram as chatices a sério. Quisemos falar com o médico responsável para o acompanhar e uma das enfermeiras presentes começou por nos dizer que não havia médicos naquele edifício. A médica que costuma atender estes doentes estava de férias e a médica substituta não compareceu no dia de hoje para fazer a substituição. Inconformado com a inexistência de médicos numa situação em que o meu pai está entre a vida e a morte, pedi, já em modo de reivindicação, para falar com o responsável do serviço. Afinal havia um médico de "prevenção", que disse depois ao telefone ser o responsável pelo serviço deste edifício, junto da prisão, mas que não era responsável pelo doente (o meu pai). Também me disse que afinal, ao contrário do que a senhora enfermeira me tinha dito, a médica que deveria estar de serviço neste edifício, não está de férias, mas sim de baixa e que não há médicos ao dia de hoje, porque a médica substituta não compareceu. Resumindo, o Hospital de Faro transferiu um doente urgente (o meu pai) para uma ala à entrada de Faro junto da prisão, sem ter atribuído um médico responsável por acompanhar uma pessoa que está entre a vida e a morte. Fiquei claramente com a sensação, extensível à minha família, de que estamos perante um fenómeno de desistência precoce da vida humana e espero que não se junte a isto o idadismo, do género não vale a pena lutar pela vida de uma pessoa com mais de 80 anos. Num dia temos os médicos à entrada do hospital a dizer que "tudo vão fazer para salvar uma vida" e no dia a seguir, ainda não passaram 24 horas estão a transferi-lo das urgências para um edifício degradado e meio abandonado à entrada de Faro, para "cuidados de conforto". Sabendo que o Hospital é gerido pela doutora Varges Gomes e pelo Dr. Horácio Guerreiro não nos espanta nada que o objectivo principal desta transferência precoce e precipitada tenha sido libertar camas nos serviços de urgência a partir de critérios dúbios. Amanhã às 10 horas, lá estarei junto do meu querido pai, para saber se vai haver médico a acampanhá-lo e se não estaremos aqui perante um fenómeno discriminatório. Aparentemente foi meio abandonado pelo pessoal médico que desistiu de lutar pela sua vida. Tudo o contrário do juramento de Hipócrates e isso nós não vamos consentir, sem dar luta. Infelizmente, nesta altura, quando mais precisamos que os serviços funcionem, o meu pai não se chama Marcelo Rebelo de Sousa, o que faria com que fosse impensável isto estar a acontecer. (Adenda: O meu pai, Eduardo Nascimento Martins, veio a faleceu em 30 de Julho de 2023, com 81 anos. Resistiu perto de três semanas à pneumonia nos apêndices do Hospital à entrada de Faro. Teve direito a acompanhamento médico até ao fim da sua vida em resultado das reivindicações da família no interior do hospital, senão teria morrido abandonado pelo pessoal médico do CHUA.)

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