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quarta-feira, janeiro 02, 2019

Educação e Reprodução Social

"Outro fator relaciona-se com a função de “ascensor social”, isto é, até que ponto a universidade é ou não capaz de realizar a sua missão de canal de mobilidade social ascendente, um aspeto que no caso de Portugal parece longe de cumprir-se, uma vez que, como se vê, os outputs do ensino superior estão longe de ser plenamente incrustados na economia. Um relatório recente conduzido pela OCDE (A Broken Social Elevator?, 2018) veio confirmar o que outros estudos portugueses há muito mostraram, ou seja, que a educação e a condição socioeconómica da família — em especial nos extremos da pirâmide social — são determinantes sobretudo na reprodução do estatuto e das oportunidades para as gerações seguintes, enquanto os diplomas académicos só muito escassamente cumprem o papel de ascensão. O referido estudo revelou que 58% dos pais portugueses consideraram que os seus filhos não atingirão o seu nível de status e conforto, e será necessário esperar cinco gerações para que tal possa vir a ocorrer. Em critérios específicos como a ocupação e a educação a “imobilidade” é a tendência mais forte. No primeiro caso, os filhos de trabalhadores manuais têm 55% de probabilidades de se tornarem também trabalhadores manuais, enquanto no topo um filho de gestor tem cerca de 69% de probabilidade de vir a conseguir um cargo dirigente. E no critério da “mobilidade educativa” o nosso país revela-se dos menos eficazes em promover a ascensão social num leque de 30 países da OCDE. Há uma “base pegajosa” e um “topo seletivo” que acionam poderosos condutores socioeconómicos capazes de neutralizar os fluxos “meritocráticos” que o ensino superior era suposto estimular."
 

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