Quem é Loulé?
A relação entre as palavras que nomeiam a realidade e as coisas que essas palavras nomeiam sempre foi utilizada por políticos, homens de negócios, publicitários e especialistas de marketing para manipular consciências e levar a sua água ao moinho.
Quando oiço na publicidade que Loulé tem orgulho no Continente não posso deixar de morrer de curiosidade por saber quem é o Loulé.
A primeira coisa que me ocorre é que o Loulé seria o senhor Presidente da Câmara Municipal de Loulé. Com todo o seu amor pelo comércio, pelas noites brancas, que um dia o haverão de salvar e pela parada de horrores cujo destino é salvar esse mesmo comércio da "Baixa Louletana", foi a primeira coisa que me ocorreu. Pensei com os meus botões "este senhor é o Loulé".
Depois achei que seria pouca gente; o Continente gastar rios de dinheiro em publicidade para uma só pessoa pareceu-me coisa de estranhar. Loulé, talvez fosse então, para além do seu presidente, toda a equipa do governo local. Já me pareceu com mais sentido. O governo local é Loulé e tem orgulho no Continente.
Veio-me depois à memória se a oposição PS, seria ela, toda, ou só uma parte, esse Loulé. Ah...e lembrei-me espontaneamente dos pequenos comerciantes. Esses são Loulé de certeza e em cada montra de loja aposto que afixarão um cartaz a dizer "Eu tenho orgulho no Continente".
Alguém ainda me chamou a atenção para os trabalhadores do mercado e os que vivem da actividade do mercado. Esses, sem dúvida, que são Loulé e de cada vez que o mercado aparece na públicidade do Continente vão de certeza rejubilar: "Tá ali, tá ali! O mercado onde eu trabalho, na públicidade do Continente. Ainda diziam que o mercado era um mero objecto estético para políticos ganharem eleições. Tá ali, é ali que eu ganho a vida!"
Mas falta ainda uma parte do Loulé. São os novos Louletanos, quais novos ricos, em busca do reconhecimento social que o tempo da miséria da pobreza nunca lhes tinha dado. Esses já abdicaram da sua condição de cidadãos, nem sequer são eleitores e regozijam-se com o admirável estatuto de consumidores.
Eu cá sou de Loulé e que me desculpe o senhor Belmiro de Azevedo não tenho orgulho no Continente!
Tenho orgulho na Biblioteca Municipal de Loulé, tenho orgulho nos homens e nas mulheres que fazem Teatro na Casa da Cultura, tenho orgulho nas piscinas municipais e no Pavilhão Desportivo Municipal que ajudaram a melhorar a qualidade de vida na cidade, tenho orgulho nas quadras do António Aleixo, tenho orgulho nas pessoas que todos os dias anonimamente fazem existir a terra onde nasci. Tenho orgulho no magnífico monumento que é o Castelo de Loulé. Teria orgulho num presidente de Câmara que cuidasse do património arbóreo da minha terra. Teria orgulho no poder político local se pela segunda vez em que vou ter um filho não tivesse que dispensar uma elevada parte do meu salário para pagar um infantário.
Assim, tenho que dizer, que não devo ser Loulé, pois não tenho orgulho no Continente. Lamento dizê-lo, mas não sou um mero eleitor, muito menos me reduzo ao estatuto de consumidor e por muito que isso custe aos actuais democratas, sou um cidadão do mundo.
Eu, amigo João, também não sou Loulé! Melhor dito: Não encontro lugar para mim no loulé do Seruca e do Belmiro. Não me revejo no Loulae e não me acho Choné... mas tenho que ir comprar alguma coisita lá na catedral de consumo, cada vez menos coisitas porque não abunda a guita. A falta de guita e de empregos é que devia ser o problema do Sr. Seruca mas disso é que ele não entende nada...
ResponderEliminarAmigo Almeida. É claro que eu também irei de vez em quando ao Continente. Dai a ter orgulho na coisa...Um grande abraço!
ResponderEliminarJoão Martins
Tenham cuidado com essas idas ao Continente do ganancioso Belmiro, não lhe chegavam 36, inaugurando o 37. Com conhecimento de causa já uma vez encontrei o mesmo produto mais caro 2 euros que noutra superfície, cuidado com o engodo. Que aconteceria aos vendedores se fossem fazer publicidade dentro das instalações do Sr. Belmiro? Não deixa de ser um lugar público, ou não?
ResponderEliminarParabéns, meu caro João.
ResponderEliminarGostaria de ter sido eu a escrever esse post, se para tanto tivesse tal "engenho e arte".